Baixa na qualidade dos empregos
12-06-2017 - 06:16

Há mais empregos, mas mais precários e mais mal pagos.

Como a Renascença noticiou, um estudo do Observatório sobre Crises e Alternativas, criado pelo Centro de Estudos Sociais da Universidade de Coimbra, mostra que o emprego cresceu em Portugal, mas a sua qualidade não tem acompanhado a quantidade, pelo contrário.

Não é propriamente uma novidade: como aqui referi há meses, um artigo do Prof. João Duque no “Expresso” apontava nesse sentido. O que é confirmado pelo estudo do Observatório de Coimbra, coordenado por Carvalho da Silva, e que consultou mais de três milhões de contratos de trabalho celebrados entre Novembro de 2013 e Maio do corrente ano.

A baixa na qualidade dos empregos manifesta-se no aumento da precariedade, pois apenas um terço daqueles contratos eram permanentes, e na queda dos salários pagos.

A média da retribuição ilíquida dos novos contratos vigentes em Maio passado era de apenas 646 euros. Nos contratos permanentes vigentes de Setembro de 2014 a Janeiro de 2017 regista-se uma considerável queda salarial – em média, passaram de 1024 euros para 809, menos 20%.

Esta chocante desvalorização salarial é a outra face da moeda da positiva descida do desemprego. E terá muito a ver com o “boom” turístico, que criou postos de trabalho em restaurantes, hotéis, serviços diversos, etc.

Os progressos realizados na qualificação dos portugueses ainda têm fraca expressão na qualidade do emprego. Mas é indispensável prosseguir e, se possível, reforçar essa qualificação no plano educativo.

Sem esquecer a necessidade de reciclar muitos adultos, cuja preparação académica é curta, o que não os ajuda a movimentarem-se num mundo cada vez mais dominado pela informática.

Por outro lado, parece que muitos gestores empresariais não estão grandemente interessados em recrutar pessoal mais qualificado. Este factor não é abordado no estudo acima referido (pelo menos naquilo que a comunicação social sobre ele nos informou).

Mas trata-se de uma atitude que não só prejudica as empresas como desencoraja os alunos que conseguem obter elevados graus académicos.