308 sufrágios e no fim ganha o PS. Os números das autárquicas
02-10-2017 - 08:27
 • Rui Barros

Veja aqui o novo mapa autárquico de Portugal.

O Partido Socialista fez o pleno, o PSD conseguiu piorar um resultado mau, CDU e Bloco perdem presidentes de câmara e CDS perde votos mas ganha mais um.

157 câmaras rosa

Se 149 era bom, 157 é ainda melhor.

Das 308 câmaras possíveis, o Partido Socialista conquistou mais de metade e reforçou o título de campeão autárquico já conquistado no sufrágio de 2013. Com o número de câmaras socialistas a aumentar desde 2001, António Costa reclama para o si o melhor resultado autárquicos da história do partido e leva para o Largo do Rato o título de grande vencedor da noite. É que, para além de ver o número de câmaras conquistadas, os socialistas viram também o número de maiorias absolutas subir: foram 140, mais 23 câmaras em que os socialistas não vão precisar de mais ninguém para governar.

11,23%. Leal Coelho falha e abre alas para Cristas

Lisboa era das votações mais antecipada e terá sido o golpe mais duro para Pedro Passos Coelho.

Depois das dúvidas sobre uma eventual coligação com o CDS e dos vários nomes que surgiram na imprensa, Pedro Passos Coelho apresentou Teresa Leal Coelho como a sua principal aposta autárquica para correr contra Fernando Medina, que sucedera a Costa, mas que nunca tinha enfrentado as urnas em Lisboa. Falhou.

O PSD tornou-se a terceira força política de Lisboa e uma sondagem ainda chegou a ameaçar colocar os “laranjas” atrás do candidato da CDU. Para segundo lugar, sobe a líder do CDS, Assunção Cristas, que enfrentava o primeiro teste eleitoral como candidata à câmara de Lisboa.

Ainda assim, a vitória continua no Largo do Rato. Medina sai vencedor, sem maioria absoluta, e conquista para os socialistas, pela quarta vez consecutiva, a câmara lisboeta. Os socialistas venceram em 19 das 24 freguesias “alfacinhas” e conquistaram duas novas juntas: Parque das Nações e Avenidas Novas.

16,08%. Ora, diga lá outra vez?

As expectativas eram baixas, as sondagens pouco prometiam, mas nada fazia antever um resultado abaixo do de 2013. O PSD conseguiu não só perder câmaras em relação às últimas autárquicas como também ver o seu poder dos grandes centros urbanos reduzido. Tanto em Lisboa como no Porto o partido de Pedro Passos Coelho ficou em terceiro lugar, sendo que em Lisboa teve quase metade dos votos do CDS de Cristas.

Passos tinha prometido que não tirava ilações dos resultados das autárquicas, mas isso não o impediu de deixar em aberto uma não recandidatura à liderança do partido. E as autárquicas podem mesmo agitar águas no PSD.

2,56% e uma câmara a mais

Não foi só em Lisboa que o CDS teve boas notícias. Assunção Cristas enfrentava o primeiro teste eleitoral depois da era Portas e isso não parece ter sido um problema. Ao bom resultado em Lisboa, Assunção Cristas soma a conquista mais uma câmara e segura o mesmo número de maiorias absolutas em relação a 2013.

Os 131 mil votos que o partido conseguiu sozinho fez com que fosse 7.º no “ranking” dos mais votados, mas em eleições autárquicas isso pouco significa. Os democratas-cristãos conquistam 6 câmaras e isso dá-lhe mais força no diálogo com um PSD derrotado.

10 câmaras a menos ou quase um terço das autarquias "para o ar"

A coligação PCP-PEV está habituada a conquistar câmaras abaixo do Tejo, mas desta vez as coisas não correram bem para a coligação que junta comunistas e verdes. A CDU perdeu dez câmaras, duas das quais geridas de 1976 e não consegue conquistar nenhuma nestas eleições. Os comunistas lideram agora 24 câmaras, menos quatro do que aquelas que lideravam em 2009, e perdem 11 maiorias absolutas detidas desde 2013.

Os resultados ainda vão ser analisados pelo Comité Central, diz Jerónimo de Sousa, que ainda que se recuse a fazer ligações directas, admitiu que menos 10 câmaras podem tirar força negocial do PCP e do PEV junto do Governo.

44%. O Porto sabe de si

Tinha sido uma das maiores surpresas das autárquicas de 2013. Agora nem sequer de coligação precisa para governar. Cerca de 51 mil quiseram Rui Moreira à frente dos destinos do Porto e deram ao independente a maioria absoluta.

Depois de nas últimas autárquicas ter conquistado a Câmara do Porto com 39,25%, Rui Moreira já não precisa de mais ninguém para governar. E no discurso da vitória apontou baterias aos partidos: criticou Manuel Pizarro por ter envolvido membros do governo na campanha, acusou Rui Rio e Paulo Rangel de terem tentado usar o Porto como “primárias secretas” do PSD e até o provedor da Misericórdia do Porto teve direito a um recado.

Mas Rui Moreira é só o principal rosto de uma mudança autárquica que se faz sentir em Portugal. Se em 2001 os grupos de cidadãos lideravam três câmaras, em 2017 já lideram 17. Ainda que não sejam um partido, mas sim um conjunto de candidaturas que os dados agregam, a comparação não deixa de ser curiosa; as candidaturas independentes conseguiram, este ano, mais votos do que a soma de votos no CDS-PP e no Bloco de Esquerda.

45,06%. Menos abstenção

Osjogos de futebol em dia de eleições não parecem ter impedido os portugueses de ir votar. Dos cerca de nove milhões de inscritos nos cadernos eleitorais, mais de metade foi exercer o seu direito de voto, atirando o valor da abstenção para 45,01%.

O valor é mais baixo do que aquele que foi registado em 2013, mas não é o suficiente para atirar os níveis de participação democrática nas autárquicas para os níveis de 2001, quando a abstenção foi de 39,88.

É, ainda assim, a primeira descida dos níveis de abstenção nas autárquicas dos últimos 16 anos e isso, parecendo que não, é notícia.