Bombeiros cobram até 60 euros para levar eleitores com mobilidade reduzida às urnas de voto
29-09-2017 - 11:09

Cidadãos com mobilidade reduzida têm de requerer o serviço aos bombeiros. E há quem cobre 60 euros. Liga dos Bombeiros Portugueses defende que seja o Estado a suportar estes custos.


Há cidadãos com mobilidade reduzida que podem ter de pagar até 60 euros para conseguirem ir votar. Este é o valor cobrado, por exemplo, pelos Bombeiros Voluntário da Ajuda, em Lisboa, pelo transporte até às assembleias de voto.

Estes valores são os mais elevados que a Renascença encontrou, pois os preços variam de corporação para corporação e até há casos em que os custos são suportados pelas juntas de freguesia.

Ainda por Lisboa, os bombeiros do Beato e os Bombeiros Voluntários Lisbonenses cobram 30 euros pelo serviço, mas, em Beja, por exemplo, o transporte fica por 14 euros. Também no Alentejo, em Évora, a deslocação fica a custo zero, pois a Junta acerta contas com os bombeiros

Ouvido pela Renascença, o presidente da Liga dos Bombeiros Portugueses, Jaime Marta Soares, argumenta que os bombeiros não podem suportar os custos da democracia.

“Não têm que ser os bombeiros a comparticipar ou a subsidiar um acto eleitoral”, defende, acrescentando que “quem deve assumir uma rede de transportes devem ser as freguesias ou os municípios”.

Jaime Marta Soares lembra que os bombeiros vivem em grandes necessidades e que o transporte de pessoas com mobilidade reduzida até às mesas de voto é difícil e demorado.

“É um serviço que muitas vezes obriga a grande esfoço, subir a edifícios sem elevador, as horas de espera nas secções de voto”, explica.

O porta-voz da Comissão Nacional de Eleições (CNE) esclarece que, de acordo com a legislação, são os eleitores que têm de custear as suas deslocações às mesas de voto.

“A lei não prevê qualquer tipo de pagamento”, diz João Tiago Machado. “Não obstante, há conhecimento de certas organizações que, em casos que eles próprios decidem, organizam transporte colectivo de eleitores”, acrescenta. João Tiago Machado lembra que, nestes casos, o mais importante é que não haja qualquer tipo de propaganda ou coacção do sentido de voto.

PCP defende transporte gratuito de doentes

Questionado pela Renascença, o líder do PCP defende a reposição do transporte de doentes não urgentes para as mesas de voto, uma possibilidade “que o Governo anterior cortou”.

“Se esse direito fosse reposto significaria que todos estariam em condições de recorrer aos bombeiros e estes não teriam uma despesa imensa sem qualquer compensação. Assim não haveria a necessidade de ser o doente a pagar", afirma Jerónimo de Sousa.

“Isto é um drama, porque há muitas pessoas idosas, com grandes dificuldades financeiras. Devolva-se o transporte de doentes não urgentes como solução definitiva que permita a participação neste acto democrático”, apela o líder comunista.