Moderar o optimismo
20-03-2017 - 06:37

Os “ratings” e os juros da dívida pública portuguesa não justificam optimismos.

No princípio deste ano, o ministro das Finanças mostrou-se esperançado na melhoria dos “ratings” da dívida pública portuguesa, bem como numa descida dos juros. Até agora, nem uma coisa nem outra aconteceram, excepto muito pontualmente.

Há dias, Mário Centeno manifestou ao “Financial Times” a sua frustração por as agências de “rating” não terem valorizado os bons resultados do Governo. Permanece a desconfiança dos investidores em relação a Portugal.

É injusta essa desconfiança? Não, porque os êxitos orçamentais obtidos em 2016 não são sustentáveis.

O investimento público, ridiculamente baixo no ano passado, assim como muitas despesas correntes “cativadas” (não efectuadas) em 2016, terão de subir este ano, sob pena de colapso em escolas, hospitais, tribunais, etc. E não haverá novo perdão fiscal. Vamos sair do Procedimento por Défice Excessivo, instaurado pela Comissão Europeia, mas a dívida pública tem aumentado.

Entretanto, no mercado secundário o juro da dívida portuguesa a dez anos mantém-se em torno dos 4%, contra 2,8% há um ano. Com um crescimento do PIB de 1,4% em 2016 e fracas perspectivas de melhoria nos próximos anos, essa taxa de juro, muito superior às da Espanha e da Itália, não permitirá uma redução significativa da dívida e levanta dúvidas sobre a nossa capacidade para a pagar um dia. Não espanta, assim, que subam os prémios de risco da dívida pública de Portugal para mais do dobro dos que paga a espanhola.

Tudo indica que os juros irão subir daqui em diante. A fase dos juros historicamente baixos acabou. A Reserva Federal já concretizou a primeira subida das três que se propôs fazer este ano.

O BCE mais tarde ou mais cedo seguir-lhe-á o caminho. E a sua compra de dívida portuguesa começou a diminuir e poderá cessar em breve.

O Presidente da República advertiu na semana passada o Governo contra excessos de optimismo. Para não cair no erro oposto – excesso de pessimismo – termino lembrando que os bancos em Portugal, que detém muita dívida pública nacional, poderão lucrar com os elevados juros dessa dívida. Ao menos isso.