Cuidado com as efemérides
10-08-2017 - 20:18

O Verão parece que aquece as cabeças. Diríamos tão só que estes são dias bons para Trump carregar num qualquer botão.

Quando faltam notícias a tentação de ler a lista das efemérides é grande. Hoje aconteceu e dou de caras com os 103 anos da data em que o Reino Unido declarou guerra ao império austro-húngaro e o Japão declarou guerra à Alemanha. Estava-se em 1914. E logo a seguir os 79 anos em que se iniciou a grande mobilização alemã para a II Guerra. Estava-se em 1938. E um ano depois consolidava-se o Eixo (entre a Alemanha e a Itália de Mussolini). Estava-se em 1939. Apetece passar adiante e ver o que se passou a 11 de Agosto de qualquer outro ano.

O Verão parece que aquece as cabeças. Diríamos tão só que estes são dias bons para Trump carregar num qualquer botão. Talvez por isso ele, ontem, não tenha resistido a prometer “fogo e fúria” em resposta às ameaças loucas do líder da Coreia do Norte ( Kim Jon-un) .

Os especialistas na zona avisam que as ameaças dos dois lados devem ser levadas a sério e não podem ser desvalorizadas como mais um jogo de estrito “bluff”, mesmo que a linguagem de Trump possa ser entendida apenas como uma forma de “descodificar” um aviso de bom senso para uma linguagem perceptível pelos líderes da Coreia do Norte de forma a que eles entendam o que no Ocidente poderia dizer-se de forma mais suave com um enérgico, “cuidado que já estamos a perder a paciência”.

Quando Trump subiu ao poder muitos politólogos lembraram que ele passara a ser o presidente da maior potencia nuclear mundial e teria acesso aos códigos de lançamento de um eventual ataque nuclear o que o tornava não apenas um líder original no poder mas um líder tão imprevisível e emocional quanto perigoso.

Guam é apenas uma ilha a 3,4 mil quilómetros de distância do centro nevrálgico da Coreia do Norte, povoada por escassas centenas de milhares de habitantes que se dizem “despreocupados” porque o guarda-chuva norte-americano os protegerá (oxalá não se enganem…). É sobretudo uma importante base norte-americana. Além disso um ataque a Guam não poderia deixar indiferente a Coreia do Sul nem o Japão (pense-se na população de Tóquio) e já se imagina uma desgraça de proporções alarmantes.

Perante essas repercussões não permitiria à China que continuasse em silencia durante muito mais tempo. Mas forçar decisões da elite chinesa num momento tão delicado quanto este pode ser uma política igualmente arriscada. A China vive sem pressas e os seus dirigentes não gostam de se ver confrontados com as precipitações dos outros.

Admitamos que apesar das mudanças de poder em Washington existe na América um corpo de conselheiros militares que evitarão a imprevisibilidade presidencial ou que pelo menos a reduzem impondo uma certa razoabilidade. Mesmo assim não será mau desejar que a “silly season” não seja uma vez mais tão “silly” quanto mostra a lista das efemérides.