​Um seguro de vida para Costa?
15-01-2018 - 19:35

Namorado à esquerda e agora também desejado à sua direita, Costa tem motivos para sorrir.

Com a eleição de Rui Rio, Costa já sabe que depois das próximas eleições, e caso não disponha de maioria absoluta, há muito boa gente, a começar pelo próprio líder social-democrata, disponível para viabilizar um governo minoritário socialista.

Por isso, até ver, a eleição de Rui Rio para a presidência do PSD deu mais poder a António Costa. Não pelo facto de Rio ser um adversário fácil de ultrapassar. Mas porque antes da eleição de Rio, Costa estava reduzido a uma opção: deixar-se amparar no Governo pelos braços do PCP e do Bloco de Esquerda.

Nas últimas eleições, para ser primeiro-ministro, só restava a António Costa o caminho da geringonça. Agora, já lhe fizeram o favor de adiantar que se ganhar as próximas eleições sem maioria absoluta, em vez de uma dispõe de duas alternativas. Pode escolher entre o PSD e os atuais parceiros da geringonça. A disponibilidade laranja, de resto, é um argumento de peso para Costa moderar as reivindicações de comunistas e bloquistas.

Por outro lado, parece razoável pensar que se o PS voltasse a perder as eleições, mas sem maioria absoluta do PSD e do CDS, a geringonça seria o caminho mais curto para António Costa se manter à frente do Governo. Alguém imagina António Costa a prescindir de governar com uma solução próxima da atual, entregando as rédeas do poder ao PSD?

Namorado à esquerda e agora também desejado à sua direita, Costa tem motivos para sorrir. A eleição de um novo líder da oposição parece significar – até ver - um seguro de vida para o atual primeiro-ministro.

Simultaneamente, ao mostrar todas as cartas ainda antes de o jogo começar, o PSD está também a facilitar o crescimento do CDS que Assunção Cristas tem dirigido com ousadia e ambição.

Em todo o caso, não acredito que o desígnio de o novo líder social-democrata seja o de reduzir o PSD a uma muleta fácil do PS. A um mês do Congresso do PSD, Rui Rio tem agora tempo e espaço para estruturar o pensamento e afinar o discurso - dele e dos seus apoiantes. Não é muito tempo, mas é um tempo indispensável.