​Ameaçada a paz no Ulster
15-06-2017 - 10:41

Tendo o apoio parlamentar dos unionistas da Irlanda do Norte o governo britânico deixará de ser um medianeiro imparcial.

Na Sexta-Feira Santa de 1998 foi possível assinar um acordo de paz no Ulster (Irlanda do Norte) entre católicos, partidários da integração na República da Irlanda, e unionistas, protestantes defensores da manutenção no Reino Unido. Era algo muito difícil de obter, dado que do lado católico estava o Sinn Fein, com um passado terrorista, e do lado protestante o partido unionista criado em 1971 e liderado pelo agressivo reverendo Ian Paisley. Não parecia gente virada para a reconciliação.

Mas a paz foi alcançada, pondo termo quase total a décadas de atentados e assassinatos de parte a parte. Nesse processo desempenhou um papel decisivo o governo britânico. Primeiro com o primeiro-ministro conservador John Major e depois com o primeiro-ministro trabalhista Tony Blair.

Ora tanto Major como Blair vieram agora chamar a atenção para que, sendo Theresa May apoiada na Câmara dos Comuns pelos dez deputados do partido unionista do Ulster, o governo britânico deixará de poder intervir nos problemas daquele território como um medianeiro honesto e imparcial. Corre-se, assim, o risco de um regresso às violências anteriores ao Acordo de 1998.

Tanto mais que, do lado do Sinn Fein, morreu em Março passado Martin McGuiness, um antigo guerrilheiro do IRA que, depois, se bateu com grande coragem pela paz. E do lado do partido unionista também morreu o seu líder histórico, Ian Paisley, que evoluiu de uma radical agressividade para uma posição de consenso.

Esperemos que o preço de um governo em Londres apoiado pelos unionistas não seja pago pela população da Irlanda do Norte, católica e protestante.