O Presidente da República e o primeiro-ministro participaram, em França, nas comemorações do centenário da trágica batalha de La Lys, na I Guerra Mundial. A deslocação justifica-se pelo grande número de imigrantes e luso-descendentes que vivem naquele país.
Daquela batalha importa sobretudo retirar as lições do desastre. O partido de Afonso Costa forçou a participação portuguesa no conflito em território europeu em 2017 (no território africano os embates com as tropas alemãs já antes haviam começado e foram sangrentos).
A ideia era que, entrando na guerra, haveria no país uma baixa das tensões políticas e sociais internas, prevalecendo a união contra o inimigo. Mas não se encarou a realidade: os militares portugueses não estavam, então, preparados para uma guerra como aquela.
Os britânicos estavam conscientes de que o exército português pouco ou nada contribuiria para o esforço de guerra contra os alemães. Por isso retardaram o mais possível a participação militar portuguesa. Acabaram por ceder, mas o pessimismo britânico confirmou-se.
François Furet, um grande historiador francês que morreu há 21 anos, defendia que os totalitarismos e as violências que se seguiram à I Guerra Mundial tiveram a sua raiz, em grande parte, no horror de quatro anos de vida e morte dos soldados nas trincheiras. Muitos militares sentiam-se ali abandonados pelos políticos, desacreditaram na democracia liberal e passaram a encarar a violência como arma legítima de combate político em tempo de paz.
No caso dos militares portugueses enviados para a Flandres, essa reação foi evidente, até porque muitos deles partiam para a frente de batalha na Europa equipados como se fossem combater em África.
A humilhação de La Lys, onde as tropas portuguesas eram comandadas pelo general Gomes da Costa, levaram ao 28 de maio de 1926, revolta chefiada por este general e que conduziu a quase meio século sem democracia.
Hoje, militares portugueses estão presentes enquanto forças de paz em vários conflitos no estrangeiro. E a sua participação é geralmente elogiada pelos seus pares de outros países, prestigiando Portugal.
É o caso da República Centro-Africana, onde sofreram ataques recentes, felizmente sem consequências físicas graves. Ainda antes desses ataques, o Presidente Marcelo visitou o contingente português naquele país africano, onde a mortandade é assustadora. Fez bem, até porque nem sempre as forças militares portuguesas destacadas para este tipo de operações dispõem de todo o equipamento necessário às suas missões. Um problema que os políticos – e todos os portugueses - devem encarar a sério.