Um discurso desastrado
15-09-2017 - 12:26

Juncker, a propósito do estado da União, fez um dos mais nocivos e repelentes discursos que alguma vez têm sido feitos por uma autoridade europeia.

O Presidente da Comissão Europeia, Jean-Claude Juncker, a propósito do estado da União, fez um dos mais nocivos e repelentes discursos que alguma vez têm sido feitos por uma autoridade europeia.

De forma surpreendente, principalmente tendo em vista o que tem sido a experiência da União e as suas (dele, Juncker) posições anteriores, vem agora defender um avanço sem precedentes na centralização de poder na União. Se as suas propostas viessem a ser aprovadas, os Estados-membros deixariam praticamente de ter poder algum relevante. Um ministro das finanças europeu (alemão, claro) passaria a dirigir as finanças de todos os países e a definir as reformas estruturais que cada Estado teria que fazer a mando da Comissão; a política externa da União passaria a ser definida por uma maioria de países (leia-se a Alemanha) e não por unanimidade; a defesa seria centralizada numa defesa europeia arrastando todos os estados para as opções dos estados dominantes (neste caso Alemanha e França); os sistemas de apoio social caminhariam para uma uniformização total através de uma primeira fase de estabelecimento de padrões mínimos (que rapidamente se tornariam muito mínimos), os parlamentares europeus começariam a ser eleitos como representantes da Europa (mas o que é isso?) e não dos estados, que é a forma de haver mais deputados alemães, e por aí fora... Vale a pena ler o discurso, se quisermos ter uma noção do que é o absurdo em política e a subserviência em relação aos interesses alemães.
Estou convencido que, felizmente, os povos europeus não deixarão avançar tão descabelado projecto. Na verdade, com excepção da Alemanha, que teria maior facilidade ainda em dominar as decisões comunitárias, o que sucederia é que os Estados-membros passariam a ser meras regiões da Europa, perdendo o estatuto de estados soberanos da comunidade internacional. Penso que isso seria demais mesmo para eleitorados alheados das questões europeias, como o nosso.

Discursos como estes só demonstram que o fim da União poderá estar mais próximo do que julgamos.