Entre a barbaridade da guerra e o calvário da fuga
02-09-2015 - 20:11
 • José Luís Ramos Pinheiro

Obrigados a escolher entre a calamidade da guerra e o calvário da fuga, quem, de entre nós, não procuraria salvar-se?

A vida desta criança não vale mais nem menos do que milhares de vidas já perdidas, desde que multidões procuram desesperadamente fugir da guerra da Síria, do Iraque ou de outros países da região.

Mas as imagens de (mais) uma criança afogada numa praia da Turquia, na sequência de (mais) um naufrágio de uma embarcação de refugiados, comprovam nesta vida perdida, a medida do desespero destas pessoas. De outro modo, como explicar que um pai ou uma mãe aceitem correr riscos desta dimensão para a vida de uma criança?

Ao fugirem da morte, estas pessoas jogam a própria vida e muitas delas encontram mais depressa aquilo de que fugiam. Mas a dureza da realidade que vivem há meses (ou anos) a fio, como que as condena a estas viagens de vida ou de morte. Não se resignando, morrem quando se tentam salvar.

Enquanto no terreno se combate e nas chancelarias se hesita há milhares de pessoas em risco iminente. A prioridade deve ser dada aos verdadeiros refugiados – aqueles que fogem das zonas de conflito, onde grupos armados se entregam não apenas à guerra, mas sobretudo a chacinas de civis indefesos e a outros actos da mais pura barbaridade.

Claro que na Europa não cabem todos os que pretendem entrar. Serão necessários compromissos e algumas regras.

Mas a primeira regra é salvar o outro, ainda que diferente e desconhecido, estendendo-lhe a mão, enquanto (ainda) for tempo.

Obrigados a escolher entre a calamidade da guerra e o calvário da fuga, quem, de entre nós, não procuraria salvar-se?