Ter de partilhar casa aos 40 anos? As novas “repúblicas” de Lisboa
16-04-2018 - 07:57

“Se o rendimento médio nacional é da ordem dos 800 euros e se as rendas andam por mil, naturalmente não é suportável” uma só pessoa arrendar uma casa.

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Com as casas a atingirem preços incomportáveis no centro de Lisboa, dividir a renda surge como a única solução para se viver na capital. E não falamos de jovens estudantes, mas de adultos trabalhadores com mais de 30 anos.

É o caso de José Carvão, professor de geografia de 41 anos. "Divido casa com três pessoas, mas não são professores. Uma casa sozinho é muito mais cara e nós, professores, não temos ajudas de custo nenhumas”, aponta à Renascença.

“Neste momento, já efetivei, mas ganho exatamente o mesmo. Ao partilhar casa, as despesas são divididas e para alguma eventualidade está lá alguém que nos possa auxiliar. Há partilhas que correm melhor do que outras, nem todos somos iguais", ressalva.

As desvantagens são apontadas por Duarte Borges, 31 anos, assessor de imprensa que há cinco anos partilha casa com um amigo.

“Temos de dividir tudo: as rotinas, os feitios, horários… e acaba por ser uma desvantagem. O espaço não é só nosso e partilhar o espaço com outra pessoa implica também que essa pessoa entre também no nosso mundo e na nossa intimidade e no nosso tempo de descanso, que é depois do trabalho ou nos fins-de-semana", refere.

No caso do gestor de redes sociais de 29 anos que preferiu ficar anónimo, a divisão do espaço com uma amiga está correr bem, até porque “os horários não interferem muito”.

“É complicado alugar sozinho um apartamento em Lisboa, os preços estão elevadíssimos. A nossa dinâmica é boa, mas eu achava que com esta idade já teria a minha casa... se calhar daqui a uns tempos gostaria viver sozinho", admite.

O que faz subir os preços das casas em Lisboa?

A Associação Lisbonense de Proprietários confirma que cada vez mais aparecem grupos de inquilinos a querer alugar casa em conjunto. O presidente, Menezes Leitão, considera que tudo se deve à escassez de imóveis.

"Há uns anos havia muitos proprietários que nos procuravam para ajudar a colocar as casas no mercado de arrendamento. Neste momento, já não nos procuram para esse efeito. Notamos que há um grande receio dos proprietários em arrendar. Isso leva a que, devido à escassez de oferta, as rendas aumentem de preço e é o que está a acontecer”, afirma à Renascença.

Do lado dos inquilinos, a perceção é outra. O presidente da Associação de Inquilinos Lisbonenses, António Machado, aponta a especulação imobiliária como causa para as rendas que obrigam muita gente a partilhar casa.

“Aumentando a especulação e os preços, cada vez as pessoas têm mais dificuldade em suportar sozinhas os custos de habitação e, portanto, a partilha de habitação é uma solução possível – como noutras épocas, em que chamavam hospedagem, agora chama-se partilha de casa, mas é uma situação idêntica”, diz.

“Estou a falar de gente empregada e que tem algum rendimento. Se o rendimento médio nacional é da ordem dos 800 euros, se as rendas andam por mil, naturalmente não é suportável só por um. E até por dois é difícil”, sublinha.

Soluções é que não se veem. Com o aumento do turismo e a retoma económica, os preços das casas subiram de uma forma brusca e os salários não estão a acompanharam esta evolução.