Catalunha. “Não, não houve” declaração de independência
13-10-2017 - 09:51
 • Pedro Mesquita

Deputado do partido de esquerda que apoia o governo da Catalunha esclarece, em entrevista à Renascença, as dúvidas sobre a declaração de Carles Puidgemont. Presidente da Generalitat está cada vez mais pressionado.

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Carles Riera, deputado da CUP (Candidatura de Unidade Popular, o partido de extrema-esquerda que apoia o presidente do governo da Catalunha), diz à Renascença que o discurso desta semana de Carles Puidgemont, sobre o resultado do referendo, acabou por não ser uma declaração de independência.

Mas se tal declaração não acontecer, a CUP ameaça retirar o seu apoio a Puidgemont, se o presidente da Generalitat não responder à carta do primeiro-ministro, Mariano Rajoy, a dizer que avança para a independência.

“Deve responder ao Governo espanhol que vai pôr em marcha o processo para a criação da República da Catalunha”, diz.

Ao contrário de alguns elementos da juventude deste pequeno partido de extrema-esquerda, Carles Riera não usa a palavra traição para classificar a estratégia de Puigdemont, que suspendeu a independência para dar uma “última oportunidade” ao diálogo.

Sublinha, ainda assim, que o presidente do governo regional não cumpriu os acordos e pactos que tinha assumido. Faltou ao compromisso, mas pode agora emendar a mão, ressalva.

Se Rajoy rejeitou o diálogo e deu um prazo de cinco dias a Puigdemont para dizer formalmente se avança com a declaração de independência ou regressa à legalidade constitucional, na leitura da CUP só pode haver uma resposta: carimbar a independência.

Caso contrário, diz o deputado Carles Riera, é possível que os 10 deputados da CUP abandonem o parlamento e Puigdemont perca um apoio essencial à sua sobrevivência como chefe do governo catalão.

“É uma possibilidade. Não viemos para o parlamento para reformar a autonomia, não é esse o nosso projecto. Viemos para defender a autodeterminação e a constituição de uma república. Se não for esse o caminho, podemos vir a abandonar as instituições de que fazemos parte, mas temos que pensar muito bem se o fazemos ou se o fazemos parcialmente”, conclui.

Cresce, assim, a tensão dentro da própria Catalunha. É a região mais rica de Espanha e quer separar-se do resto do país.

No dia 1, realizou um referendo sobre a sua independência que, segundo o governo regional, deu 90% dos votos a favor da separação de Espanha.

As repercussões da crise política chegaram à economia. Desde 2008, a Catalunha já perdeu mais de 2.500 empresas e vários bancos decidiram retirar a sua sede da região.

À Renascença, o presidente da Associação de Empresários da Catalunha, José Bou, mostra-se contra a independência e fala dos prejuízos para a região da actual situação.