Atentado em Paris é um teste crucial para o futuro
07-01-2015 - 18:00
 • Nota de Abertura

Só uma Europa consciente da sua matriz e dos pilares que ainda a sustentam recusará respostas meramente autoritárias e securitárias, baseadas no medo e na ignorância.

O atentado brutal de Paris está relacionado com o trabalho de um jornal satírico, mas o alvo era o coração democrático das nossas sociedades.

E nesse coração devem habitar, de modo indissociável, liberdade e responsabilidade.

Mas um coração fraco, que acredita em pouca coisa e que desprotegeu os seus valores, tem dificuldades acrescidas em conjugar liberdade e responsabilidade.

Nas últimas décadas, as sociedades europeias desarmaram-se – ou deixaram-se desarmar – de muitos valores que alicerçavam a sua vida social; passaram a acreditar em quase nada e, anémicas de valores, tornaram-se frágeis e permeáveis às mais diversas convicções alheias.

Por isso, este atentado - violento e cobarde – à semelhança de outros que têm semeado o terror no Iémen, na Nigéria ou na Turquia, constitui um desafio, agora ainda mais exigente, aos valores essenciais que definem as nossas sociedades.

Só uma Europa consciente da sua matriz e dos pilares que ainda a sustentam recusará respostas meramente autoritárias e securitárias, baseadas no medo e na ignorância.

Na recusa da justiça privada, na resposta aos criminosos, na exigência de justiça, na prevenção, no combate ao preconceito fácil contra o islão ou contra os imigrantes - em tudo é preciso articular liberdade com responsabilidade.

Na sequência deste cruel atentado de Paris começa - para os europeus e para os seus líderes - um teste crucial para o futuro.