Palavras, leva-as o fogo. O que os governantes têm dito sobre os incêndios nos últimos dez anos
13-08-2016 - 09:34
 • João Carlos Malta

Sempre que há uma grande época de incêndios, ou se prepara a época de ataque às chamas no Verão, as proclamações políticas sucedem-se. Uma análise aos últimos dez anos, mostra como as preocupações se repetem. Com que resultados?

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Prevenção, é preciso apostar na prevenção. São palavras de ordem no que combate aos incêndios diz respeito, mas os resultados mostram que não têm sido ordens. Ou, pelo menos, não têm sido ouvidas no terreno. Todos os anos os alertas se repetem. Todos os anos parecem novos. Não são.

A jusante, a questão dos meios. São sempre suficientes até que deixam de ser.

A Renascença recua dez anos até ao primeiro governo Sócrates para recordar algumas das frases sobre os incêndios que têm sido ditas.


"Os fundos comunitários vão ser utilizados para desenvolver políticas de prevenção e premiar os proprietários que não desprezam o que são as suas responsabilidades na prevenção dos riscos de incêndios.” José Sócrates, primeiro-ministro, 2005

“Com este programa, o país vai ter os melhores soldados na defesa da natureza e das florestas.” José Sócrates, primeiro-ministro, 2005

“Este é um trabalho de todos os portugueses. Dirijo-me aos portugueses para lhes pedir que tenham muito cuidado nos comportamentos de risco que podem provocar incêndios e que estejam alerta em relação a todos aqueles que ateiam incêndios e não deixem de comunicar às autoridades.” Cavaco Silva, Presidente da República, 2006

“O que o senhor ministro da Agricultura quis fazer foi deixar uma palavra de grande preocupação para que aquilo que é o papel social da propriedade da floresta deve ser ampliado, no sentido de ampliar essa forma de propriedade. O comportamento negligente de um proprietário pode por em causa a segurança dos proprietários vizinhos. E isso deve estar reflectido também na lei.” José Sócrates, primeiro-ministro, 2010

“O Estado detém a propriedade de muito pouco espaço florestal. É uma obrigação dos privados manter a floresta bem ordenada e limpa.” Passos Coelho, primeiro-ministro, 2013

“O Estado tem tido dificuldades em substituir-se aos privados em fazer essa limpeza.” Passos Coelho, primeiro-ministro, 2013

“A prevenção deve ser feita ao longo do ano, a limpeza de todos os espaços, não é cumprida devidamente.” Passos Coelho, primeiro-ministro, 2013

“Vivemos tempos de dificuldades financeiras graves, mas isso não impediu que se mantivesse todo o esforço de despesa orçamental que foi feito em anos anteriores no combate aos incêndios. Nós não aliviámos nem nos descuidámos nos meios que estão disponíveis para intervenção no terreno.” Passos Coelho, primeiro-ministro, 2013

“A floresta portuguesa é 2% propriedade do Estado, as chamadas matas nacionais, o que significa que 98% da floresta portuguesa não pertence ao Estado. Sobre essa floresta existe um regime de propriedade que o Estado tem que respeitar. A actuação no terreno sobre áreas florestais que compete ao Estado é sobre 60 mil hectares.” Francisco Gomes da Silva, secretário de Estado das Florestas e do Desenvolvimento Rural, 2014

“Quando alguém diz que o Estado gere mal a floresta estou à espera que me diga: qual, onde e quando. Os dados que tenho não são esses. A principal mancha florestal propriedade do Estado que fica na região Centro, que costumamos chamar erradamente Pinhal de Leiria - já que é um conjunto de matas – representa 50% das matas nacionais. Essas matas são visitadas anualmente por inúmeros gestores florestais do mundo e é dada como um exemplo de gestão florestal. O Estado faz mais do que a sua obrigação? Não. E é uma das razões porque não vale a pena falar muito nesta altura, porque quem afirma isso não está a ser correcto. E se o afirma que diga quais são essas áreas, porque se calhar não são área públicas.” Francisco Gomes da Silva, secretário de Estado das Florestas e do Desenvolvimento Rural, 2014

“Não posso construir uma casa no meio de um espaço florestal se não garantir à minha volta 50 metros de faixa de contenção de combustíveis.” Francisco Gomes da Silva, secretário de Estado das Florestas e do Desenvolvimento Rural, 2014

“Estão aqui as televisões e eu aproveito para dizer. Impressiona-me sempre que as televisões façam especial gala na cobertura dos incêndios florestais e não gastem um minutinho do seu tempo a percorrer o país, a ver o que está feito ou não está feito em termos de prevenção.” Miguel Macedo, ministro da Administração Interna, 2014

“Há um trabalho, levanta-se o auto, está identificada a contra-ordenação e, depois, não há consequências. Isso não pode acontecer, porque isso faz com que haja um sentimento de desresponsabilização.” Miguel Macedo, ministro da Administração Interna, 2014

“Vamos ter mais 50 equipas de combate aos incêndios, o que significa termos mais 250 homens.” Miguel Macedo, ministro da Administração Interna, 2014

“Temos uma parte enorme do dispositivo que não tem os equipamentos para fogos florestais. Temos nisso atrasos enormes.” Miguel Macedo, ministro da Administração Interna, 2014

“Estamos muito longe de ter as condições adequadas, enquanto país. Isto para não dizer mais. Na parte do treino temos um mundo todo para fazer e isso não pode deixar de ter consequências no terreno. Não investimos nisto como país nas últimas décadas como devíamos.” Miguel Macedo, ministro da Administração Interna, 2014

“Portugal está a enfrentar neste momento condições meteorológicas muito severas e favoráveis a incêndios florestais como não acontecia há cerca de uma década e meia”. Anabela Rodrigues, ministra da Administração Interna, 2015