​Macron e Trump
27-04-2018 - 06:33

As divergências entre o presidente francês e o americano não foram disfarçadas pela retórica. Mas é útil que Macron mantenha uma boa relação pessoal com Trump.

O presidente Macron apostou em manter uma relação cordial com o presidente Trump, ao mesmo tempo que discorda frontal e publicamente das políticas deste. A aproximação pessoal entre ambos começou pela iniciativa de Macron convidar Trump para a festa nacional francesa, o 14 de Julho do ano passado em Paris. Trump gostou do que viu e até sugeriu, depois, a realização de uma parada militar em Washington.

Agora, falando perante o Congresso de Washington, Macron não podia ter sido mais claro na rejeição das opções de Trump. Criticou o nacionalismo, o protecionismo, a saída americana do acordo de Paris sobre o clima, bem com a retirada militar das forças dos EUA que ainda estão na Síria. Desafiou os governantes americanos a não destruírem a ordem internacional e as instituições multilaterais que os próprios EUA impulsionaram depois da II Guerra Mundial.

Mas Macron parece ter falhado o seu principal objetivo: convencer Trump a não abandonar o acordo sobre o programa nuclear do Irão, também assinado, além da França e dos EUA, pela Rússia, China, Reino Unido e Alemanha. A decisão do presidente americano será conhecida a 13 de Maio. O problema é que os EUA querem liquidar o acordo, mas não apresentam qualquer alternativa. Houve alguma esperança de que Trump se interessasse pela proposta de Macron: uma negociação de um acordo adicional, capaz de acolher certas preocupações de Washington. Nada indica, porém, que Trump tenha gostado da sugestão.

Nem se afigura possível que Teerão venha a aceitar condições mais restritivas na execução do acordo. Continua vivo o conflito no Irão entre as forças mais fundamentalistas, lideradas pelo líder supremo, o Ayatollah Ali Khamenei – que não é grande adepto do acordo, e os reformistas, entre os quais se inclui o presidente do Irão, Hassan Rohani (um dos negociadores do acordo). Para não perder o fraco peso politico que ainda detém, Rohani já teve que se pronunciar contra quaisquer alterações ao que foi acordado em 2015. Se, como é provável, o acordo nuclear implodir, as fações mais radicais do Irão ganharão nova força, o que não augura nada de bom para a população iraniana nem para a pacificação do Médio Oriente, incluindo o apoio de Teerão ao terrorismo xiita.

Apesar deste insucesso da viagem de Macron aos EUA e do reafirmar de todas as divergências, é vantajoso que um líder europeu mantenha um canal de comunicação com Trump, com alguma disposição de o ouvir da parte do presidente americano. Hoje estará em Washington a chanceler alemã Angela Merkel. Não é crível que obtenha de Trump mais do que Macron conseguiu – simpatia pessoal.