Na crónica do passado dia 18, pus em dúvida que a coligação entre a Liga (extrema-direita) e o movimento 5 Estrelas (populista) viesse a governar Itália. Pelo menos para já, de facto, não vai governar.
O designado primeiro-ministro, destinado ao papel de “árbitro” entre aquelas duas forças políticas que têm propostas contraditórias, o jurista Giuseppe Conte, não aceitou o cargo, depois de o Presidente da República ter rejeitado o ministro escolhido pela coligação para a Economia e as Finanças, o eurocético Paolo Savona.
Curiosamente, não se viram reações negativas a Conte, por este ter abrilhantado o seu notável currículo com a passagem por algumas prestigiadas universidades estrangeiras, algumas das quais o desmentiram.
O problema foi Savona, que considera a entrada da Itália no euro um “erro histórico”. O Presidente Mattarella não o aceitou porque uma eventual saída do euro desvalorizaria brutalmente a poupança dos italianos, incluindo a das empresas, sobrecarregaria os que estão a pagar empréstimos à habitação (quase todos a taxas variáveis) e alarmaria os investidores externos, nomeadamente os atuais e futuros detentores de dívida pública italiana, cujos juros subiriam dramaticamente.
Ontem, a decisão do Presidente fez subir a cotação do euro e a bolsa italiana; e descerem os juros da dívida da Itália. Mas pode ser sol de pouca dura.
O governo de transição que Mattarella encarregou um antigo funcionário superior do FMI, Carlo Cottarella, de constituir não terá uma maioria no parlamento italiano. Por isso, deverá manter-se como governo de gestão até novas eleições, depois do verão ou mesmo já em 2019.
Por outro lado, a destituição de Mattarella proposta pelos partidos da coligação, ainda que seja aprovada no parlamento, deverá ser rejeitada pelo Tribunal Constitucional, que tem a última palavra na matéria.
A instabilidade política em Itália é frequente desde o fim da II Guerra Mundial. Desta vez é particularmente aguda e ninguém sabe se não continuará depois de novas eleições.
A Liga e o M5E podem voltar a vencer a votação e avançar com novo governo de coligação, eurocético. A incerteza não ajuda a economia italiana a sair da estagnação em que se encontra há anos.