Eutanásia. “Então agora vamos passar a ser executores? É um escândalo”
11-05-2018 - 16:29
 • Ângela Roque

Alice Menezes é médica e, na próxima semana, vai moderar um debate sobre a eutanásia, na Universidade Católica do Porto. À Renascença, diz que não reconhece legitimidade aos deputados para legislarem sobre a matéria e aconselha os portugueses a informarem-se e a estarem “atentos ao que aí vem”.

Alice Menezes, médica do Porto não esconde a preocupação com a possibilidade de se legalizar a eutanásia em Portugal. “Preocupação e incómodo”, sublinha à Renascença, porque como profissional de saúde considera “um escândalo” que se queira impôr esta prática a quem luta diariamente pela vida dos doentes.

“Incomoda-me muito. Imagine o que é um médico, que a nossa maneira de ser é tentar diminuir o sofrimento, tentar aumentar a vida, então agora vamos passar a ser executores? Mesmo que não sejam os médicos, mesmo que os médicos façam objeção de consciência, tem de haver alguém que execute”, afirma, alertando para a linguagem mais suave que tem sido usada e que só serve para enganar as pessoas.

“Falam em morte medicamente assistida? Isto não é morte medicamente assistida, porque isso é o que todos queremos, é estar em casa, acompanhados por médicos, pelos familiares, pelas pessoas que nos ajudam a morrer em paz e com menos dores e com serenidade. O que está nas propostas dos partidos não é isso, é mais do que isso, mas eles usam essa expressão mais agradável, que no fundo é uma maneira de nos taparem os olhos. Para mim é um escândalo, para os médicos em geral é um escândalo.”

Alice Menezes não tem dúvidas de que a maioria dos clínicos está contra a eutanásia e não reconhece legitimidade aos deputados para legislarem sobre uma matéria em relação à qual tanto a Ordem dos Médicos como a Comissão Nacional de Ética para as Ciências da Vida se pronunciaram contra. “Eles não estão mandatados para fazerem isto”, diz.

Também adverte que esta prática, já legalizada em alguns países, choca com a maneira de ser do povo português. “Isto não pertence à nossa cultura, somos um povo afável, intrinsecamente solidário”. É por isso que deixa um aviso: “É bom que os deputados não pensem que podem impunemente fazer estas leis. Há um preço a pagar. O povo fica incomodado, porque isto é demais para o povo português. Nós todos não somos nórdicos, isto afeta-nos”, sublinha.

O debate da próxima semana, que Alice Menezes vai moderar na Universidade Católica do Porto, pretende ajudar a esclarecer as pessoas sobre um assunto que interessa a todos. “É esse o principal objetivo, que as pessoas saibam exatamente o que isto é e que não durmam, que não estejam de olhos fechados, que estejam atentos ao que aí vem, porque é grave e vai afetar-nos a todos”.

A médica apela à participação das pessoas dada a importância do assunto. “Agradecemos que participem, que nos oiçam e que deem opinião contrária, mas que possamos discutir livremente isto.”

“Porque não à Eutanásia?” é o tema do debate, no qual vão participar os médicos Walter Osswald e António Maia Gonçalves, a enfermeira especialista em cuidados paliativos Teresa Tomé Ribeiro e o juiz Pedro Vaz Patto, atual presidente da Comissão Nacional Justiça e Paz.

Organizado em conjunto pela Universidade Católica Portuguesa e pelo núcleo do Norte da Associação dos Médicos Católicos, o evento está marcado para as 15h do próximo dia 17 de maio, no auditório Carvalho Guerra do Campus da Foz, da UCP Porto, com entrada livre.