A crise dos “media"
24-08-2017 - 06:35

A queda da publicidade limita os meios de comunicação social em quase todo o mundo.

O maior grupo empresarial de publicidade do mundo, o WPP, reviu pela segunda vez este ano as previsões de receitas e vendas. Ambas as revisões foram em baixa e reflectem em grande parte a redução do investimento das empresas em publicidade.

Pensou-se inicialmente que, nos jornais, a publicidade perdida na edição em papel seria compensada por publicidade na edição digital, que actualmente quase todos os meios de comunicação social possuem.

Mas tal não aconteceu, pelo menos por enquanto. Para essa situação contribui o facto de empresas tecnológicas como a Google e o Facebook deterem hoje um quinto de toda a publicidade digital do globo.

Nos outros “media”, para além da imprensa – ou seja, na televisão e na rádio – a quebra da publicidade significa, quase sempre (sempre nas empresas privadas), uma substancial diminuição de recursos, pois a publicidade é a sua única fonte de receitas.

Como é óbvio, a quebra da publicidade e as descidas das vendas dos jornais na maior parte do mundo reflectem-se na qualidade dos “media”.

Julgo que actualmente já não seria possível um jornal como o “Washington Post” manter secretamente num hotel durante meses dois jornalistas, com apoios de secretariado, a investigar o escândalo Watergate. Falta dinheiro na comunicação social e a primeira vítima é o jornalismo de investigação, que não é barato.

Em 2013, o CEO da Amazon, Jeff Bezos, comprou o “Washington Post”. Receou-se o pior, mas felizmente o jornal manteve um apreciável nível de qualidade.

Aliás, J. Bezos disse depois que tinha adquirido aquele jornal baseado na convicção de que o jornalismo é de interesse público e por isso precisa de sobreviver. Uma necessidade acrescida com a eleição de Trump, que já fez subir a tiragem de alguns jornais americanos de referência – que ele detesta, claro.

Nas edições “on-line” de grandes jornais americanos e europeus encontram-se agora apelos a que os leitores ajudem o jornalismo sério assinando esses jornais. Mas está muito enraizado o hábito de, na internet, consumir informação de graça. O fim da crise dos “media” ainda não está à vista.