Fraca concertação
27-03-2018 - 12:53

A maioria dos países da UE expulsou diplomatas russos. Portugal não. Porquê?

A reação mundial às atitudes da Rússia atingiu uma dimensão nunca vista. Os EUA de Trump (que, contra o conselho dos seus colaboradores, deu parabéns a Putin pela sua reeleição) expulsaram nada menos de 60 diplomatas russos.

Na União Europeia (UE), a maioria dos Estados membros expulsou diplomatas russos. Até o primeiro-ministro da Hungria, um declarado amigo e admirador de Putin, expulsou um diplomata russo. O mesmo fizeram os países bálticos, vizinhos da Rússia e sempre preocupados com eventuais ataques vindos do outro lado da fronteira. Portugal não, nada, zero. Porquê?

Não será, certamente, porque o governo português queira branquear as manifestações de agressividade russa na Ucrânia ou a desumanidade dos ataques da força aérea russa na Síria, matando milhares de civis, ou, ainda, por desculpar ou ignorar as mais do que evidentes interferências russas, via internet, nas eleições nos EUA e noutros países. Também não será por duvidar da origem russa da tentativa de assassinato, perto de Londres, de um espião russo que traiu o KGB – caso que o governo português expressamente condenou.

Há quem avance com a hipótese de ser uma contrapartida para o apoio russo à candidatura de António Guterres a Secretário-Geral da ONU – Moscovo começou por apoiar uma candidata búlgara, ex-comissária da UE.

Especula-se, também, que o governo de António Costa não quis desagradar ainda mais aos órfãos do comunismo soviético, como o PCP, que ainda vêem em Putin, ex-agente do KGB, algo que lembra a gloriosa URSS. Será por Portugal se encontrar geograficamente longe da Rússia? Não, porque a Espanha expulsou dois diplomatas russos. E a Irlanda, país neutro que não pertence à NATO, expulsou um.

No comunicado em que o Ministério dos Negócios Estrangeiros informou ter “tomada boa nota” da expulsão de diplomatas russos por parte de vários Estados membros da UE.

No entanto, o documento nada diz sobre Portugal seguir esse exemplo, afirma-se acreditar “que a concertação no quadro da União Europeia é o instrumento mais eficaz para responder à gravidade da situação presente”. Mas, pelos vistos, trata-se, da parte portuguesa, de uma concertação limitada.

Decerto que nem todos os membros da UE expulsaram diplomatas russos. Mas Portugal, sempre empenhado em participar nos grupos mais avançados da integração europeia, para ter voz credível nos assuntos comunitários, desta vez encolheu-se e ficou com a minoria. Uma falha na solidariedade europeia.