Europa federalista, ou Europa soberanista?
06-01-2017 - 06:15

A Europa federalista, a União Europeia, seguiu-se à Europa soberanista (as das Comunidades) em 1993, com a entrada em vigor do tratado de Maastricht. E desde então tem sido um desastre.

Como muitos outros, abomino o populismo como ideologia ou pseudo-ideologia política. É irracional, porque inventa inimigos inexistentes para melhor desviar as atenções dos cidadãos dos seus reais problemas e porque faz apelo aos piores sentimentos humanos, em particular a xenofobia. É justamente a xenofobia que torna especialmente repulsivo o actual populismo europeu. Nenhum democrata e em particular nenhum português pode pactuar com a xenofobia.

Mas ser adversário do populismo não implica esconder a verdade em relação ao que tem sido a integração nas últimas duas décadas e meia.

E a verdade é que, para a Europa, o federalismo tem sido até agora muito mais nocivo que o populismo.

A Europa federalista, a União Europeia, seguiu-se à Europa soberanista (as das Comunidades) em 1993, com a entrada em vigor do tratado de Maastricht. E desde então tem sido um desastre.

Empenhou boa parte das energias dos estados membros na criação de um gigantesco fiasco (pré-anunciado, note-se) que é a união económica e monetária. Centralizou absurdamente o poder nas instituições comunitárias, esquecendo a longa história da Europa e das democracias que a constituem. Perdeu grande parte do apoio popular de que a CEE dispunha e criou tensões políticas, económicas e financeiras graves a nível dos estados europeus, contribuindo decisivamente para a perigosa clivagem norte-sul com que hoje somos confrontados. Permitiu uma hegemonia indevida da Alemanha, fez sair o Reino Unido (e não, não considero que o voto pela saída tenha sido populista) e desarmou a capacidade da maior parte dos estados membros lidarem com a globalização.

Por último, é afinal o federalismo dogmático, surdo às vontades expressas dos eleitorados (haja em vista a fraudulenta substituição do rejeitado tratado constitucional pelo actual tratado de Lisboa) que tem sido, embora involuntariamente, o grande alimento do populismo.

Impõe-se por isso substituir a Europa federalista e retomar o caminho, que nunca deveria ter sido abandonado, da Europa soberanista.