Mais vale prevenir…
23-08-2017 - 06:15

O défice externo de Portugal está a crescer desde Maio. Um regresso ao passado?

Diz-se que um país vive acima das suas possibilidades quando as suas contas externas estão desequilibradas e o crédito para financiar esse défice externo vai sobretudo para o consumo e não para criar riqueza, que possa mais tarde pagar os empréstimos.

Um défice externo superior a 10% do PIB atirou-nos para a quase falência há seis anos. Só não abrimos bancarrota porque a “troika” nos emprestou 78 mil milhões de euros. Um crédito com condições, claro. Foi preciso baixar o consumo reduzindo os rendimentos dos portugueses, o que obviamente não se fez sem dor.

Ora a euforia com a recuperação económica em curso arrisca-se a levar a economia portuguesa de novo para uma situação próxima daquela. Ainda estamos longe do desastre, mas convirá tomar cuidado, pois há indícios preocupantes. Mais vale prevenir do que remediar…

O endividamento dos particulares diminuiu um pouco. Mas o crédito ao consumo tem crescido demais, como já aqui sublinhei. A poupança das famílias encontra-se em mínimos históricos. Enquanto o crédito às empresas não dá mostras de recuperação significativa. Por isso as empresas vão procurar crédito no exterior, como ontem revelou o Banco de Portugal. Aumentou 3,5 mil milhões de euros o financiamento obtido pelas empresas junto de não residentes.

Prossegue o bom comportamento das exportações e o “boom” do turismo. Mas as importações sobem fortemente - cresceram 15% as importações de mercadorias no primeiro semestre – e boa parte delas não foi para maquinaria e equipamentos empresariais, mas para automóveis e outros bens de consumo.

Daí que o défice externo (incluindo a balança corrente e a de capital) tenha atingido 685 milhões de euros no primeiro semestre deste ano, contra um défice de 356 milhões de euros no primeiro semestre ano passado. Este agravamento acentua-se desde Maio. Se ele continuar nos próximos meses, haverá motivos para séria preocupação.