​Portugal em risco
29-06-2018 - 06:39

Quando este texto vier a público deve estar a decorrer a cimeira europeia que prioritariamente abordará a questão das migrações.

Há poucos dias atrás, realizou-se em Meseberg, como preparação para a cimeira geral, uma cimeira bilateral Merkel-Macron. O resultado desta deve-nos preocupar – e muito.

Pelo que se deduz da declaração final, os dois, sem o dizerem, comprometem-se a prosseguir o modelo de integração europeia, cujas origens vêm desde o tratado de Maastricht e que se tornou muito mais chocante a partir de 2010: ou seja, apostam num pseudo-federalismo governado por um directório constituído pela Alemanha e a França (o que, apesar de tudo, é uma diferença em relação ao directório dos piores tempos da crise, que era constituído apenas pela Alemanha).

A divisão de trabalho entre os dois dirigentes é óbvia. Macron encarrega-se das grandes frases de um federalismo extremo, continuando a apregoar as tolices da “soberania europeia” e do protectorado europeu e apostando num papel dominante da França no domínio militar. Mas , claro: não se esquecem os dois que é preciso reforçar o poder do directório e daí o acordo para reduzir ainda mais as decisões europeias que têm de ser tomadas por unanimidade e para deixar de haver um comissário por cada país. Erdogan não faria melhor.

Quanto a Merkel encarrega-se do que verdadeiramente interessa e dai ser proposta uma alteração institucional da zona euro que, a ser aprovada, tornaria mais prolongada e penosa a austeridade a impor aos países devedores, uma completa sujeição ao directório, através do reforço da condicionalidade na prestação de eventual apoio financeiro.

O risco é tremendo e Portugal pode estar a jogar a sua sobrevivência como país soberano membro da comunidade internacional nesta cimeira geral.

E o cenário é ainda mais perigoso se nos lembramos que os aspectos relativos às migrações que, justificadamente, serão preponderantes, poderão servir para esconder decisões que decorram do acordo de Meseberg.