Os oceanos estão ameaçados e o mundo está pouco atento
08-06-2017 - 19:00
 • José Alberto Lemos

É isso que a Fundação Oceano Azul quer mudar. Na conferência de Nova Iorque sobre oceanos, a concessionária do Oceanário de Lisboa deu o seu contributo.

O diagnóstico é preocupante, talvez mesmo assustador:

  • em 2016, mais de 40% dos corais existentes no mar desapareceram devido às alterações climáticas, muito em particular ao El Niño, que atacou violentamente no ano passado;
  • a pesca excessiva também contribuiu para a destruição de muitos corais;
  • 2% dos oceanos estão completamente mortos;
  • todos os anos são mortos cem milhões de tubarões;
  • as pradarias marinhas, que são as áreas que mais carbono absorvem nos oceanos, estão a ser destruídas de forma galopante
  • a acidificação crescente das águas do mar é responsável pela diminuição dos bivalves porque os ecossistemas afectados deixam de produzir calcário e sem calcário não se formam bivalves.

Estes são alguns dos dados que caracterizam a situação actual dos oceanos. Dados que estão longe de ser exaustivos, mas que dão uma ideia dos danos que as alterações climáticas e a acção humana directa estão a provocar nos mares do planeta. Apesar disso, o tema só agora começou a ser debatido a nível global, graças à Conferência dos Oceanos, que decorre esta semana nas Nações Unidas, em Nova Iorque, em que marcam presença praticamente todos os países-membros.

E a que se deve então este défice de atenção aos oceanos quando se sabe que eles são decisivos para o equilíbrio ambiental?

Tiago Pitta e Cunha, presidente da Fundação Oceano Azul, concessionária do Oceanário de Lisboa, tem uma explicação. Após o fim da Guerra Fria, quando se começaram a usar os satélites para efeitos civis, começou-se a perceber que as florestas estavam a diminuir assustadoramente e a pôr em risco o equilíbrio ecológico. As atenções voltaram-se então para esse fenómeno, a opinião pública ganhou consciência da sua gravidade e foram-se adoptando medidas para combater o problema.

Os oceanos ainda não foram objecto da mesma atenção, mas é urgente que o sejam porque são responsáveis pela absorção de mais de 90% do aumento da temperatura terrestre. Ou seja, até agora a humanidade preocupou-se mais com o ecossistema que absorve 10% do aumento da temperatura — as florestas — do que com aquele que absorve 90% — os oceanos.

“Hoje há ainda um grande fosso entre os cientistas e os governantes quanto aos oceanos”, lamenta Pitta e Cunha, que vê na conferência da ONU uma grande oportunidade para sensibilizar os governos mundiais e as opiniões públicas para este problema.

Por isso, a Fundação Oceano Azul, viajou para Nova Iorque para, no âmbito do sector não-governamental e das parcerias internacionais em que está envolvida, contribuir para sensibilizar os governos e os filantropos a investir na defesa e preservação dos oceanos.

“É indispensável que os governos se comprometam aqui a tomar medidas urgentes para inverter o ciclo de destruição em curso”, alerta. E dá como mais um exemplo do alheamento da opinião pública em relação ao assunto o facto de apenas 5% das verbas da filantropia mundial irem para os oceanos. “A indústria, a finança e a banca não estão nesta conferência”, lamenta Tiago Pitta e Cunha.

A fundação tem um orçamento anual de 5,5 milhões de euros e contribuiu com uma verba para ajudar alguns países pobres a estarem presentes em Nova Iorque esta semana. Sobretudo países insulares que são os mais ameaçados pela subida do nível das águas em consequência do aumento da temperatura da Terra. Alguns poderão mesmo desaparecer.

Tiago Pitta e Cunha explica que a fundação a que preside tem três áreas de acção fundamentais: conservação dos oceanos; educação e literacia; capacitação sobre o futuro.

Neste âmbito, exprime a ambição de criar uma geração azul de cidadãos mais qualificados em Portugal, sensíveis aos problemas dos oceanos e activos na sua defesa. E fala da necessidade de transferir tecnologia de países que a têm para aqueles que não a têm de modo a capacitá-los para preservar os seus ecossistemas marinhos.

Lembra ainda a questão vital das energias limpas e renováveis e dá como bom exemplo o projecto da EDP das eólicas "offshore" flutuantes, considerado pioneiro e com grande potencial para se expandir globalmente. Mas a sua preocupação principal mantém-se inalterável. “É preciso continuar a ligar os problemas dos oceanos aos do clima global”, afirma.

Nos Estados Unidos, com a administração Trump, os tempos não parecem muito favoráveis a este desígnio.