Patriarca de Lisboa surpreendido “positivamente” com resultados da actual maioria
10-04-2017 - 06:52
 • Aura Miguel , José Pedro Frazão , Joana Bourgard , Inês Rocha

Solução de esquerda não parecia “natural”, mas está a conseguir coisas “positivas”, do défice ao desemprego. A “distensão” ajuda “a resolver os problemas de outra maneira”, diz D. Manuel Clemente em entrevista à Renascença.

O cardeal patriarca de Lisboa, D. Manuel Clemente, diz que a solução que apoia o Governo no Parlamento está a obter alguns resultados “positivamente” surpreendentes. Para D. Manuel Clemente, houve uma viragem na sociedade portuguesa e vêem-se “alguns sinais de recuperação económica” e de “descrispação”, um clima que “ajuda a resolver os problemas de outra maneira”.

“Quando foram as últimas eleições, estivemos diante de resultados que deixaram muita gente perplexa. Como é que isto agora se vai resolver? Há um partido que é o mais votado, mas que não tem votação suficiente para formar governo, mesmo aliado com o partido com que estava aliado antes. Talvez fosse mais natural, atendendo ao que tinha acontecido até aí, que as alianças acontecessem no chamado arco governamental. Mas não foi assim e assim nasceu uma outra coligação, pelo menos no Parlamento, que sustenta o Governo. E as coisas têm andado e têm andado de uma maneira que, nalguns aspectos, é surpreendente e positivamente surpreendente”, diz D. Manuel Clemente, numa entrevista para ouvir e ler na íntegra pelas 17h00, esta segunda-feira, na Renascença.

“Baixar o desemprego é bom; diminuir a tensão social, a crispação, é bom; haver resultados – uns são de agora, outros foram preparados antes – no campo do ensino, é bom; haver óptimas perspectivas para actividades como o turismo, é bom. Há aqui coisas boas, há alguns sinais de recuperação económica”, aponta.

O cardeal patriarca vê na actual situação um tom mais optimista e menos crispado, uma “distensão” que “ajuda a resolver os problemas de outra maneira”.

Igreja sem “nada a esconder”

Nesta entrevista feita no âmbito dos 80 anos da Renascença, propriedade do Patriarcado de Lisboa e da Conferência Episcopal Portuguesa, que se cumprem esta segunda-feira, o patriarca falou também de outra efeméride: a dos 100 anos das aparições de Fátima, cujas cerimónias contarão com a presença do Papa. “Coincide muito o essencial de Fátima com o essencial do Papa Francisco, em torno da palavra misericórdia”, afirma.

Para D. Manuel Clemente, há um “enorme desafio” para a Igreja portuguesa, que é a “recomposição comunitária da vida cristã”, essencial, sobretudo, para que os jovens, que se têm envolvido em movimentos como a Missão País, se possam ligar de forma regular à religião.

Nesta entrevista, o patriarca refere-se ainda às notícias recentes sobre as contas da Cáritas de Lisboa, admitindo que a Igreja poderá ter que melhorar mecanismos de transparência, apesar de não ter “nada a esconder”.

No final desta conversa, D. Manuel Clemente faz uma revelação: admite voltar a fazer rádio na Renascença. “Aquilo tinha muita vitalidade, muita actualidade. Disso tenho pena. Mas, enfim... Daqui por seis anos, faço 75 e, se o Papa da altura me dispensar destas funções, volto à rádio [risos].”