Corbyn e o Brexit
28-02-2018 - 06:40

O líder dos trabalhistas tomou posições sobre o Brexit que o aproximam, pontualmente, dos conservadores europeístas.

Os negociadores do Brexit por parte da UE vão hoje propor aos britânicos que os conflitos que surjam entre as duas partes, após consumada a

saída do Reino Unido, sejam julgados pelo Tribunal Europeu de Justiça.

Naturalmente que os negociadores britânicos irão recusar a proposta, mas ficarão obrigados a apresentarem uma alternativa. Ora o que mais tem faltado da parte britânica são alternativas concretas.

As pressões contraditórias a que está sujeita a primeira-ministra Theresa May, dentro do seu próprio partido e até dentro do seu governo, travam propostas claras. Esta semana chegou a vez de o líder do partido trabalhista britânico, Jeremy Corbyn, vir dar o seu contributo para a confusão.

Corbyn defende agora que o Reino Unido, uma vez saído da UE, deve negociar com esta uma união aduaneira. A primeira ministra Theresa May tem outra posição, mais radical – quer o seu país fora da UE, da união aduaneira e do mercado único. É esta posição dura que agrada aos conservadores que não gostam da Europa comunitária.

Uma união aduaneira, além de eliminar direitos alfandegários no comércio de mercadorias entre os seus membros, tem uma pauta exterior única. O que favorece o comércio.

Por outro lado, é a única maneira de evitar que a fronteira que divide a República da Irlanda do Ulster (Irlanda do Norte) volte a ser reerguida como fronteira externa da UE – atualmente não tem quaisquer barragens, como acontece na fronteira entre Portugal e Espanha, por exemplo.

Ora, a manutenção desta fronteira aberta é um dos pontos do “acordo de sexta-feira santa”, que em 1998 trouxe paz a um Ulster dividido entre protestantes, pró-britânicos, e católicos, pró República da Irlanda, envolvidos em sangrentos conflitos.

O desentendimento político que há meses mantém suspenso o governo autónomo do Ulster poderá agravar-se, tanto mais que o partido pró-britânico apoia os conservadores na Câmara dos Comuns, sem o que T. May não teria ali uma maioria.

A mudança de opinião de Corbyn vem baralhar ainda mais a falta de posição britânica. Mas Corbyn foi apoiado, neste ponto, pela Confederação da Indústria Britânica, o mais importante organismo patronal do Reino Unido. O “Financial Times” chama-lhe “uma bem-vinda mudança de opinião”. E, para que a sua opção consiga obter uma maioria de votos na Câmara dos Comuns, Corbyn precisa do apoio de alguns conservadores pró-europeus, uma minoria que não gosta de um “hard Brexit”, um Brexit radical.

A aproximação de Corbyn aos empresários e aos capitalistas é meramente ocasional, pontual. Ele é um socialista muito de esquerda, anticapitalista e adepto de nacionalizações em larga escala. Mas é curiosa esta aproximação, aliás também apoiada pelos trabalhistas moderados e pró-europeus.

Este conteúdo é feito no âmbito da parceria Renascença/Euranet Plus – Rede Europeia de Rádios. Veja todos os conteúdos Renascença/Euranet Plus