A Alemanha e as Forças Armadas
02-08-2018 - 06:26

Merkel disse que os europeus já não podem confiar nos EUA para se defenderem. Mas a as Forças Armadas alemãs estão em péssima situação.

As duas guerras mundiais da primeira metade do séc. XX foram iniciadas pela Alemanha. E na fase nazi, 1933-1945, o regime político alemão foi uma ditadura totalitária, responsável pelo horror do holocausto, uma iniciativa de ódio demencial e assassino, que prejudicou o próprio esforço de guerra do país. Depois da II guerra mundial, os alemães procuraram voltar ao grupo das democracias liberais, aderindo com entusiasmo à integração europeia. Mas, porventura para esquecerem as atrocidades da guerra, desinteressaram-se da sua própria defesa militar. O que, reconheça-se, nem desagradou aos novos aliados alemães. Basta lembrar o nervosismo com que M. Thatcher e F. Mitterrand, após a queda do muro de Berlim, encararam a reunificação alemã. Uma RFA relativamente desarmada tranquilizava quem, no Reino Unido e em França, tinha ainda viva a memória da guerra.

Durante décadas, o problema da fraqueza das Forças Armadas da RFA não foi muito sentido também porque os EUA garantiam a defesa da Europa ocidental contra um eventual ataque soviético. Mas a guerra fria acabou e o atual presidente dos EUA não garante a segurança dos europeus. Além disso, o Reino Unido (ainda uma potência militar) irá sair da UE.

Por isso se olha para a Alemanha, esperando que ela lidere o reforço da defesa da UE. O que seria coerente com aquilo que a chanceler Merkel disse, com razão, há dias: os europeus já não podem confiar nos EUA para se defenderem.

A Alemanha gasta apenas 1,2% do seu PIB na área militar. O que dá alguma razão aos protestos de Trump e dos seus antecessores. Só que Trump ameaçou sair da NATO se os outros membros não pagarem pelo menos 2% (ele chegou mesmo a falar em 4%) dos encargos da Aliança Atlântica, ameaça que nunca antes um presidente americano fizera. Aliás, a Suécia e a Finlândia, que nem pertencem à NATO, já reforçaram os seus orçamentos de defesa, pois Putin não lhes merece confiança, algo abalada pelo recente aumento de submarinos russos no mar Báltico.

Merkel prometeu subir o orçamento alemão da defesa para 1,5% do PIB até 2024. Mas, segundo sondagens, só 15% dos alemães apoia esta subida; 36% consideram excessivo o presente nível da despesa militar do seu país.

Ora a situação das Forças Armadas alemãs é hoje preocupante. O semanário “The Economist” forneceu alguns dados a tal respeito. Assim, menos de metade dos tanques do exército alemão funciona; dos 50 helicópteros Tiger apenas 12 voam; dos 128 aviões de combate Typhon só 39 estão operacionais; no final do ano passado, nenhum dos seis submarinos alemães estava no mar. E o número de militares tem diminuído: desde a reunificação alemã os efetivos desceram de 500 mil para 180 mil (o serviço militar obrigatório acabou na RFA em 2011).

Uma chanceler politicamente enfraquecida como se encontra Merkel não tem condições nem talvez tempo para acordar a opinião pública alemã quanto ao imperativo de melhorar a capacidade defesa, do seu país e da Europa. É mais um problema sério que a integração europeia enfrenta nesta fase de crise aguda.


Este conteúdo é feito no âmbito da parceria Renascença/Euranet Plus – Rede Europeia de Rádios. Veja todos os conteúdos Renascença/Euranet Plus