Macron em Berlim
16-05-2017 - 06:21

Merkel gosta de Macron. Mas só negociará a sério depois das eleições alemãs.

O novo Presidente de França, Emmanuel Macron, nomeou ontem primeiro-ministro um político de centro-direita, Edouard Philippe, do partido conservador-gaullista republicano e muito próximo de Alain Juppé.

No regime presidencial francês, a chefia do executivo cabe ao Presidente da República. O primeiro-ministro é o seu braço direito. Esta nomeação significa, assim, uma ponte para os conservadores.

A seguir, Macron viajou para Berlim. A sua primeira visita ao estrangeiro foi, significativamente, para se encontrar com Angela Merkel. A chanceler alemã há um mês parecia próxima de ser alcançada nas sondagens por Martin Schulz, candidato do SPD (socialistas) e ex-presidente do Parlamento Europeu. Mas as três últimas eleições estaduais foram outras tantas vitórias de Merkel e do seu partido, CDU.

Mesmo assim, Merkel não pode alargar-se em concessões a Macron em matéria de integração europeia antes das eleições gerais alemãs de 24 de Setembro, porque já vários jornais alemães vieram lançar a dúvida sobre quanto custará à Alemanha uma nova aliança com a França.

Claro que Merkel saudou com entusiasmo a eleição de Macron, um europeísta convicto, que não faz concessões ao populismo eurocéptico. Mas não vai arriscar. Por isso, só depois das eleições na RFA poderá começar a emergir um novo consenso germano-francês, para relançar o eixo entre os dois países e, nessa base, fortalecer uma UE em crise.

Entretanto, numa surpreendente entrevista do ministro das Finanças alemão, Wolfgang Shauble, à revista “Der Spiegel”, este tradicional campeão da ortodoxia financeira germânica disse não se opor à ideia de Macron, que encara a união económica e monetária da Zona Euro como uma união de transferências entre países ricos e países pobres. Desde que, acentuou Schauble, os auxílios financeiros se destinem a concretizar reformas estruturais.

A confirmarem-se estas palavras, já se terá percorrido algum caminho na aproximação entre Berlim e Paris, resultante da eleição de Macron.