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Paulo Morais

Do mito à realidade

12 mar, 2012 • Paulo Morais

Quem tem vivido muito, mas muito, acima das suas possibilidades é o Estado, os dirigentes políticos, os gestores públicos e todos os que comem dessa enorme manjedoura que é o Orçamento do Estado.

Do mito à realidade
Vem sendo repetida à exaustão a ideia de que chegámos a esta crise económica profunda apenas porque os portugueses andaram a viver acima das suas possibilidades, fizeram férias caras e compraram bens que não deviam.

Este é um mito que em nada cola à realidade. Até porque, quando adquirem bens ou serviços, os cidadãos fazem-no ou com o seu dinheiro ou a crédito. No primeiro caso, estão no seu direito, pois o dinheiro é seu e gastam-no como bem entenderem. Já nos casos em que gastaram a crédito – e são muitos – a responsabilidade é, em última análise, dos próprios.

Mas a questão deve ser resolvida sempre entre o cliente e seu banco e não constitui responsabilidade dos contribuintes.

O problema do país resulta, pois, essencialmente da sua dívida pública e quem tem vivido muito, mas muito, acima das suas possibilidades é o Estado, os dirigentes políticos, os gestores públicos e todos os que comem dessa enorme manjedoura que é o Orçamento do Estado.

Mesmo no que diz respeito à dívida privada, mais de 70% é constituída por crédito hipotecário resultante da especulação imobiliária em que o Estado foi conivente.

Convém, pois, recordar que a situação miserável a que chegámos não é da responsabilidade directa dos cidadãos, mas sim, apenas, o resultado duma má gestão do Estado.