Tempo
|

Raquel Abecasis

Caos nas urgências. De quem é a culpa?

27 jan, 2015 • Raquel Abecasis

O ministro da Saúde, apesar da austeridade, tem conseguido fazer um trabalho de qualidade.

Três anos de austeridade não poderiam deixar o serviço nacional de saúde incólume. É verdade: todos o sentimos quando entramos num hospital público – poupa-se nos materiais, avalia-se melhor a necessidade de meios complementares de diagnóstico, há menos médicos, menos enfermeiros e menos auxiliares de acção médica.

Tudo isto é verdade e deve ser reavaliado pelas consequências fatais que tem para a população, mas também não podemos deixar de reconhecer que, com todas estas dificuldades, continuamos a ter um serviço nacional de saúde que, no essencial, é de altíssima qualidade e cumpre em pleno a sua missão.

É com isto presente que se deve olhar para as notícias dos últimos dias, que pelo alarme social que sempre causam levam a misturar alhos com bugalhos, ajudando a servir interesses ocultos através da responsabilização política.

A verdade é que o ministro da Saúde, apesar da austeridade, tem conseguido fazer um trabalho de qualidade, ultrapassando dificuldades e apresentando soluções para racionalizar os gastos em saúde. Este é um trabalho unanimemente reconhecido e que não devemos esquecer.

Não devemos também ignorar que são os mesmos que agora batem no peito e se indignam com o "caos nas urgências" que não se cansam de dizer que Portugal tem médicos a mais, opondo-se assim à abertura de mais vagas em Medicina e obrigando centenas de jovens com verdadeira vocação para médicos e terem de ir estudar para fora.

Em cima da mesa para resolver os problemas do momento está outra vez a proposta de chamar os médicos reformados. Mas o bastonário da Ordem dos Médicos, que a toda a hora ouvimos indignado nas rádios e nas televisões com a situação nos hospitais, é o mesmo que defende com unhas e dentes os interesses corporativos da sua classe, impedindo de forma autista que o país dê lugar aos novos.

No mundo mediático em que vivemos é mais fácil resolver os problemas com notícias alarmistas com o objectivo de afastar os políticos (lembremo-nos dos célebres nascimentos em ambulâncias que serviram à justa para afastar Correia de Campos, outro bom ministro que foi afastado pelas corporações).

O ministro saiu e os bebés deixaram de nascer nas ambulâncias. Coincidência estranha, não acha?