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Raquel Abecasis

O estado a que isto chegou

24 out, 2014 • Raquel Abecasis

Ninguém acredita na história de um Governo forte e coeso – longe vão os tempos em que Portas, coligado com Durão Barroso, comentava que nem se sentia num governo de coligação.

A um ano de eleições - se elas ocorrerem no prazo previsto - CDS e PSD mobilizam-se para mais uma encenação de paz, numa altura em que já ninguém esconde que o que se passa no seio da coligação é uma gestão de relações e interesses conflituosos.

Se pensarmos que, há um ano, depois da “demissão irrevogável”, a discussão era sobre a urgência de marcar uma data de assinatura de um acordo de coligação para a próxima legislatura e olharmos para a total indiferença com que essa questão é agora olhada por centristas e social-democratas, percebemos bem que, no ano que passou, os conflitos foram apenas maquilhados e a pintura borrou com o Orçamento do Estado de 2014.

Passos Coelho e Portas bem podem fazer juras de que, com eles, o Governo de coligação é para chegar ao fim da legislatura, que a única conclusão que daí retiramos é que o primeiro-ministro juntou à sua famosa obstinação, a capacidade de ter feito Portas seu refém, sem alternativa nem vontade própria.

No Governo e no país ninguém acredita na história de um Governo forte e coeso – longe vão os tempos em que Portas, coligado com Durão Barroso, comentava que nem se sentia num governo de coligação. Agora sente-se e sente-se bem: há ministros contra ministros, secretários de Estado contra ministros e Passos Coelho acima de todos a mandar respirar fundo e andar para a frente.

O castigo dos governantes até poderá chegar ao fim, graças à teimosia do chefe, mas, no final, os jornais hão-de contar as histórias tristes sobre o lado negro deste casamento à força.

A dúvida é como é que, antes disso, os dois partidos e os seus líderes ainda vão encontrar forças para se suportar numa campanha eleitoral que não vai ser pêra doce.