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Raquel Abecasis

Diz-me com quem andas

16 set, 2014 • Raquel Abecasis

Independentemente do curso que os processos "Face Oculta" e o que envolve Maria de Lurdes Rodrigues venham a ter na justiça, era importante que o principal responsável político dessa época, José Sócrates, se pronunciasse.

Num julgamento relativamente rápido, a ex-ministra da Educação Maria de Lurdes Rodrigues foi condenada por prevaricação de titular de cargo político.

Esta sentença – ainda passível de recurso – mostra que algo mudou na justiça ou na disposição dos juízes. Não é por acaso que Maria de Lurdes Rodrigues diz, no final do julgamento, que ficou muito mal impressionada com a justiça.

De facto, com justiça ou sem ela, a verdade é que neste processo – como, noutra dimensão, no processo “Face Oculta”, também ele com condenações em primeira instância para os principais arguidos: Armando Vara, Paulo Penedos e José Penedos – temos a percepção de que há um julgamento de uma prática de governação.

É a justiça a condenar a forma como o tráfico de influências se pratica nos corredores do poder.

Independentemente do curso que estes processos venham a ter, era importante que o principal responsável político dessa época, José Sócrates, se pronunciasse, para além das manifestações de solidariedade com os companheiros.

Entre a legalidade e a idoneidade há uma diferença objectiva, mas a um ex-primeiro-ministro não basta atravessar as teias da lei, é preciso também que saiba preservar a sua idoneidade.

Lembremo-nos que Cavaco Silva também tem tentado escapar por entre os pingos da chuva do caso BPN, mas esse é, na verdade, um caso que, por mais que diga que nada fez de ilegal, não se lhe descola das vestes presidenciais.