É uma ilusão perigosa julgar que, sem a “troika”, deixam de existir motivos para austeridade. Portugal vai continuar sob vigilância, agora, sobretudo, dos mercados.
A “troika” foi-se embora e Portugal vai sair do apoio externo sem a “bengala” de um programa cautelar. Boas notícias, até porque ainda há meses muitos vaticinavam um segundo resgate, a espiral recessiva, etc.
Mas é uma ilusão perigosa julgar que, daqui em diante, já não existem motivos para austeridade.
Em troca de um empréstimo de 78 mil milhões de euros, a “troika” impôs-nos medidas restritivas, algumas dolorosas e nem sempre bem orientadas. Isso acaba. Mas Portugal continuará sob vigilância, agora sobretudo dos mercados.
Como é natural, estes pretendem que o Estado português dê sinais de que pagará o que deve – cerca de 130% do PIB, percentagem muito alta.
Se esses sinais – ainda que impopulares – não forem claros, o Estado deixará de ter acesso ao crédito externo a juros razoáveis. Nem sequer para pagar as muitas dívidas, à medida que atingem os seus prazos de amortização.
A solução será não pagar? Ou forçar a renegociação da dívida? Teríamos, então, uma austeridade bem mais dura do que a actual. Conviria não nos iludirmos, para evitar surpresas desagradáveis.