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Francisco Sarsfield Cabral

A semântica da austeridade

22 abr, 2014 • Francisco Sarsfield Cabral

O primeiro-ministro francês não gosta da palavra austeridade, mas vai cortar 21 mil milhões de euros na protecção social e já avisou que “não podemos viver acima dos nossos recursos”.

O novo primeiro-ministro francês, Manuel Valls, afirmou que não iria aplicar um plano de austeridade, palavra maldita sobretudo para a esquerda do seu partido, o PS (que o detesta).

Mas, por outro lado, Valls promete que a França não falhará as metas acordadas com Bruxelas, explicando: “Não é a Europa que nos impõe estas escolhas. Não podemos viver acima dos nossos recursos”.

Para tal, Valls prevê 50 mil milhões de redução na despesa do Estado até 2017, dos quais 21 mil milhões de cortes na protecção social. Até 2015 quase todas as prestações sociais ficam congeladas, em vez de aumentarem ao ritmo da inflação.

Parece, então, que a austeridade é uma questão de semântica. Valls reconhece que os franceses estão a viver acima dos seus recursos, logo têm que cortar gastos, públicos e privados. Só que, sendo o governo socialista, a isto não se chama austeridade.

Algo me diz que, se e quando Seguro for primeiro-ministro, teremos austeridade, mas não se chamará austeridade. Os socialistas resolvem a quadratura do círculo através da semântica.