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Francisco Sarsfield Cabral

Uma tentação perigosa

18 fev, 2014 • Francisco Sarsfield Cabral

A discussão sobre o pós-“troika” parece ser entre simplesmente sair com uma rede de segurança ou uma saída “limpa”, em que poderemos fazer aquilo que nos der na gana. Uma dicotomia simplista que oculta a realidade.

O debate público em Portugal tem-se centrado num tema: depois do fim do programa de assistência da UE e do FMI, saída com programa cautelar ou sem ele, à irlandesa?

O assunto é importante, decerto, mas por vezes parece que a alternativa será simplesmente sair com uma rede de segurança, que implica condições, ou uma saída “limpa”, em que poderemos fazer aquilo que nos der na gana.

Esta dicotomia simplista oculta uma realidade que muita gente ainda não interiorizou: para conseguir pagar gradualmente a enorme dívida pública (quase 130% do PIB) e manter algum nível de financiamento externo ao Estado português a juros razoáveis (algo indispensável por largo tempo), a disciplina das contas públicas terá de continuar ao longo de décadas.

O mesmo se diga do desequilíbrio das contas externas, neste momento ultrapassado, mas que poderá voltar se a economia não crescer e se regressarmos aos padrões de consumo do passado recente.

Daí o aviso da ministra das Finanças, ao alertar ontem para a tentação de abdicar da disciplina orçamental, julgando que depois da “troika” tudo muda.