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Ribeiro Cristóvão

Os sem-abrigo

30 jan, 2012 • Ribeiro Cristóvão

António Fiúza pretendeu exprimir um estado de alma num momento particularmente feliz, sem deixar de aproveitar para colocar de novo em evidência o grande fosso que separa os clubes com maiores potencialidades dos outros, e o tratamento que habitualmente lhes é dado.

Os sem-abrigo

A surpreendente mas inquestionável vitória alcançada ontem pelo Gil Vicente frente ao Futebol Clube do Porto serviu, entre outras coisas, para trazer de novo à ribalta o Presidente dos “galos”, ao afirmar que “de vez em quando os sem-abrigo também têm o direito de ganhar aos ricos, de terem um dia feliz”.

António Fiúza pretendeu assim exprimir um estado de alma num momento particularmente feliz, sem deixar de aproveitar para colocar de novo em evidência o grande fosso que separa os clubes com maiores potencialidades dos outros, e o tratamento que habitualmente lhes é dado.

Mesmo constatando esta realidade, de pouco ou mesmo nada servirá este desabafo do Presidente do clube de Barcelos para atenuar o tratamento a que são sujeitos todos quantos pertencem ao escalão imediatamente a seguir aos três grandes.

E, já não falando de aspectos relacionados com a vida financeira desses clubes, basta olhar para a forma como são tratados pelos árbitros e seus responsáveis vezes a fio, para ficar sem quaisquer dúvidas sobre esta chocante realidade.

Não ter estatuto de grande relevo significa, quase sempre, mas sobretudo em caso de dúvida, sair prejudicado. Ainda neste fim-de-semana tivemos disso exemplos bem marcantes.

Mas a jornada fica igualmente assinalada por outros factos dignos de nota:

Desde logo, a derrota do campeão nacional depois de um período de sucesso que parecia interminável e, pior do que isso, a prenunciar uma quebra de consequências imprevisíveis.

Volta a haver boas razões para soltar de novo o alarme para as bandas do dragão, tal como já acontecera após o “desastre” de Coimbra em jogo da Taça de Portugal.

O grito da revolta também soou a meio e no fundo da tabela. Disso são prova as vitórias do Olhanense em Setúbal, como um bom augúrio para o jovem treinador Sérgio Conceição e, sobretudo, do Paços de Ferreira frente à União de Leiria, saindo assim de uma posição a que durante largo período parecia já condenado.

Enfim, dando razão a Fiúza, os sem-abrigo também têm o direito de ter um dia feliz. Só é pena que não se repita com maior frequência.