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Pedro Azevedo

Nunca mais será o que era

04 jun, 2015 • Pedro Azevedo

A notícia que caiu como uma bomba só tem efeito de detonação para quem ainda duvidar que no futebol moderno os únicos fiéis depositários do amor à camisola são os adeptos.

Jorge Jesus foi o único treinador português da história do Benfica a ganhar dois campeonatos seguidos. E com a surpreendente passagem para o rival da Segunda Circular volta a fazer história. Desde o primeiro campeonato da 1ª Liga, em 1934-35, que um treinador campeão no Benfica não mudava para o rival, na época seguinte.

Na década de 70, o inglês Jimmy Hagan depois de ser tricampeão na Luz, ingressou no Sporting só depois de uma passagem de um ano e meio pelo Estoril. O jugoslavo Milorad Pavic, após ganhar em 1974/75 na Luz, teve de andar por Espanha, Jugoslávia e França, antes de chegar a Alvalade. Há outros dois casos de campeões na Luz que mais tarde ingressaram no Sporting: Otto Glória e Fernando Riera. O brasileiro que também ganhou dois títulos em Alvalade divididos com Juca (1961/62 e 1965/66), só assinou pelos leões, dois anos após a primeira passagem pelo Benfica, fazendo de permeio uma escala de dois anos no Restelo. O chileno Fernando Riera, chegou ao Sporting sete anos após o adeus ao Benfica, onde foi três vezes campeão (1962/63, 66/67 e 67/68).

No Benfica, Jorge Jesus ganhou em todas as competições um total de dez troféus em seis anos. Foi um fenómeno de longevidade e mereceu a confiança do presidente Luís Filipe Vieira mesmo nos momentos de grande fragilidade como a derrota no Dragão, em 2013. Perante tamanha confiança na relação entre presidente e treinador, terá de concluir-se que pelo menos uma das partes, não estaria interessada na renovação de contrato.

O fim de época coincidiu com o anúncio da SAD encarnada de desinvestimento no futebol profissional na próxima época e uma estranha indefinição sobre o futuro da equipa técnica.

Jorge Jesus terminou contrato e é livre para assinar por quem entende. Mas ao escolher o arqui-rival terá de ser o primeiro a perceber que para o universo benfiquista, nunca mais será o que era. É a cultura desportiva do país onde Jorge Jesus nasceu e trabalha como profissional, há mais de 40 anos.

Contudo, numa análise mais pragmática, a notícia que caiu como uma bomba só tem efeito de detonação para quem ainda duvidar que no futebol moderno os únicos fiéis depositários do amor à camisola são os adeptos.