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Ribeiro Cristóvão

Às escondidas

27 jun, 2014

Não adianta exigir debate e reflexão acerca do nosso futebol no rescaldo da sua desastrada participação na prova maior do mundo. Será apenas chover no molhado.

Se a selecção portuguesa de futebol tivesse saído prestigiada do Mundial de Futebol, o seu regresso a Lisboa não aconteceria, seguramente, às cinco horas da manhã à entrada do próximo domingo em que as pessoas estarão mais viradas para uma saltada à praia ou um passeio pelo campo, acompanhado de almoço a condizer.

Viajar de noite e chegar às escondidas para que não haja recepção incómoda no aeroporto de Lisboa é a medida mais indiciadora da falta de debate que vai acontecer a seguir, apesar de muita gente o reclamar como inevitável, tendo em vista acautelar o futuro do futebol português.

Ou seja: passada a onda que submergiu a nossa selecção, e que não vai durar mais de meia dúzia de dias, tudo voltará a ser como dantes.

O interesse dos adeptos vai ainda centrar-se no Campeonato do Mundo, pelo menos enquanto o Brasil se mantiver em competição, mas logo a seguir será a actividade dos seus clubes com muitas notícias de transferências, compras e vendas à mistura, que não deixará de suscitar toda a sua atenção.

Não adianta, por isso, exigir debate e reflexão acerca do nosso futebol no rescaldo da sua desastrada participação na prova maior do mundo. Será apenas chover no molhado e nada mais, porque os grandes protagonistas que o comandaram no Brasil vão seguir à pressa para merecidas férias e essas são sagradas, não deixando espaço nem tempo para dedicar a essa discussão.

Depois, quando chegar ao fim essa margem de descanso estará à porta o Europeu, o próximo objectivo que só nos vai trazer novidades requentadas: a mesma planificação, opções revisitadas, os mesmos jogadores convocados, modelos de jogos inalteráveis, tudo igual.

Recomenda-se, por isso, aos portugueses que gostam de futebol e da sua selecção que se preocupem com outras coisas, porque ao debate à sua volta apenas têm acesso a meia dúzia iluminada que o comanda.

Em circuito fechado, claro está…