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Opinião

Dívidas ocultas, mais austeridade

31 mar, 2011 • Francisco Sarsfield Cabral

A revisão do défice de 2010 ficou nos 8,6% ao contrário dos 6,8% previstos na execução orçamental. Os partidos da oposição já reagiram, e todos apontam o dedo ao caso BPN.

Não fiquei surpreendido. Acho que é sempre uma má notícia, embora isso seja mais contabilidade que outra coisa. Agora, a pior notícia, porque vai continuar no futuro, tem a ver com as empresas públicas, embora neste caso tenham tido um impacto de apenas 0,5%.

No caso do BPN, de facto, foi uma coisa um bocado mal sabida. Não por ter sido nacionalizado, mas porque depois devia ter sido mais rapidamente resolvido. No caso do BPP, é uma coisa que acontece uma vez e acabou. Esperemos. O BPN não sei se fará dar mais prejuízo no futuro.

No caso das empresas públicas, não é só a Refer, o Metro de Lisboa e do Porto que ameaçam ter passivos muito grandes, lembrando que é o Estado que nos obriga a meter esses passivos no défice. Por exemplo, ainda hoje se fala na Carris. A Carris está sem dinheiro, o Estado vai que entrar com dinheiro para a Carris, portanto é natural que isso vá aumentar a despesa pública.

Os mercados já tinham antecipado um pouco isto, por outro lado, sabiam muito bem que tinha entrado o fundo de pensões da PT como medida extraordinária. O défice real nunca seria os 7,3%, nem sequer com o fundo de pensões da PT.

Mesmo dada a situação do país, acho que é possível alcançar a meta do défice para este ano, 4,6%,  com mais austeridade. Isso é inevitável, porque se há recessão, que o Banco de Portugal confirmou para este ano e até para o ano – se começa a entrar nas contas, dívidas que estavam meias ocultas, meias escondidas – então vai ter que haver mais austeridade, seja pelo lado da receita, seja pelo lado da despesa.