Emissão Renascença | Ouvir Online

Teatro da Cornucópia pode acabar em Janeiro

06 nov, 2012 • Maria João Costa

Em entrevista à Renascença, Luís Miguel Cintra diz que sem a última tranche do subsídio da Cultura não poderá pagar os salários da companhia até ao fim do ano e considera que o novo secretário de Estado Jorge Barreto Xavier foi uma escolha "triste".

Teatro da Cornucópia pode acabar em Janeiro
Em entrevista à Renascença, Luis Miguel Cintra diz que sem a última tranche do subsídio da Cultura não poderá pagar os salários da companhia até ao fim do ano. O actor e encenador admite dissolver a Cornucópia a partir de Janeiro.

Crítico quanto à escolha do novo secretário de Estado da Cultura, Luís Miguel Cintra admite que poderá ter de dissolver a companhia do Teatro da Cornucópia a partir de Janeiro.

Em entrevista ao programa Terça à Noite da Renascença, o actor e encenador, que há quase 40 anos criou a companhia, explica que “a última tranche do subsídio ainda não foi dada, portanto, neste momento, não sabe como vai pagar os ordenados até ao fim do ano”.

Luís Miguel Cintra vai mais longe e diz que “perdeu confiança no Governo para pedir um empréstimo ao banco sobre um dinheiro que não sabe sequer se virá”. O Teatro da Cornucópia, que tem actualmente em cena a peça “Os desastres do amor”, poderá acabar em Janeiro.

“Como não há concurso aberto, não há qualquer perspectiva de financiamento da parte do Estado da actividade; se isto continua assim até ao fim do ano, eu não posso arriscar começar uma nova temporada e terei simplesmente de dissolver a empresa a partir de Janeiro, se não houver uma promessa de abertura de concurso”, indica.

Novo secretário de Estado da Cultura foi uma escolha "triste"
Questionado sobre o novo secretário de Estado da Cultura, Jorge Barreto Xavier, que substituiu Francisco José Viegas no Palácio da Ajuda, Luís Miguel Cintra é bastante crítico. Explica que o conheceu antes, quando o governante esteve na Direcção Geral das Artes, e que tiveram uma relação que “não era carne nem peixe”. Sobre Jorge Barreto Xavier, Luís Miguel Cintra diz: “não reconheço nele o golpe de asa, nem a ousadia, de estabelecer nenhuma decisão de fundo sobre a organização de toda a cultura portuguesa – que é a responsabilidade que se lhe atribui”.

Nesta entrevista ao programa Terça à Noite da Renascença, Luís Miguel Cintra sublinha ainda que “acha sintomático que tenha sido escolhido um funcionário daquele tipo porque significa da parte do Governo que não está à espera de agir sobre a cultura, está à espera de gerir o pouco que irá dar à cultura". O encenador conclui, dizendo que foi uma escolha "triste".

Numa entrevista em que elogia o realizador Manoel de Oliveira como um exemplo de fidelidade a si próprio, Luís Miguel Cintra fala também da actual situação do país e critica a situação da educação. O actor e encenador que defende que cultura e educação devem ter uma maior dotação orçamental, considera que o sistema de ensino “é muito deficitário, não dá formação de cultura geral às pessoas, nem suficientes instrumentos para um tipo de pensamento que não seja apenas utilitário a uma maneira de viver”.

Numa conversa em que falou também de como o actor enfrenta o envelhecimento do seu corpo, Luís Miguel Cintra abordou ainda as questões da fé. Considera impossível viver sem fé e diz que “é muito difícil aceitar que a nossa vida se contém só em si própria e que viver significa apenas a espera até ao momento da morte.”

Cintra sublinha que “a vida tem outro sentido que transcende e tem outro sentido na vida dos outros. O sentido religioso da vida tem para mim a ver com isso, chegando a partir daí a uma ideia de absoluto. E a ideia de absoluto é a ideia de Deus. Não me é possível viver sem essa ideia”.