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Ribeiro Cristóvão

Velhos hábitos

03 abr, 2012 • Ribeiro Cristóvão

Despedir um treinador é o recurso a que é mais fácil deitar mão, o que faz com que este seja sempre o elo mais fraco da cadeia.

Velhos hábitos

Chegados a esta altura do campeonato, o espectáculo repete-se invariavelmente. Embora os despedimentos de treinadores sejam uma constante durante toda a época, é nesta altura que se acentua esse movimento de entradas e saídas, quase sempre de duvidosos resultados.

Trata-se de uma escapatória para muitos dirigentes, que pretendem assim apaziguar as suas massas associativas, sem que nunca reconheçam que os erros também começam muitas vezes por eles próprios.

Não sendo possível interromper o contrato com jogadores, despedir um treinador é o recurso a que é mais fácil deitar mão, o que faz com que este seja sempre o elo mais fraco da cadeia.

Em Portugal, mais do que um hábito, esta medida tornou-se um vício que se repete com inusitada frequência.

Basta verificar que entre os 16 clubes da Liga principal, e quando ainda faltam cinco jornadas para chegar ao fim, apenas sete mantêm os treinadores com que iniciaram a temporada, o que representa uma média bem inferior a 50 por cento.

E há até alguns que já mudaram de equipa técnica mais do que uma vez, sendo o caso mais emblemático o da União de Leiria, que já vai no terceiro treinador, e sem que entretanto os bons resultados apareçam.

Só no passado fim de semana quatro técnicos portugueses receberam carta de despedimento, incluindo neste número Carlos Carvalhal que deixou os turcos do Besiktas.

Por cá, Feirense, Sporting da Covilhã e Naval da Figueira da Foz, também concluíram que a melhor solução para os seus problemas imediatos seria mudar de treinador, na perspectiva de ainda poderem juntar os cacos e aliviar as dificuldades, o que não parece muito provável.

Resta saber se os acordos a que chegaram empregadores e empregados incluem o cumprimento integral dos compromissos voluntariamente assumidos, sabendo-se que não raras vezes o contencioso é chamado para dirimir causas que depois se arrastam no tempo.
 
É que quem não tem dinheiro, não tem vícios.

E, substituir um treinador, mais do que um velho hábito, parece ter-se transformado já em vício.