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Eunice Lourenço

As "novas oportunidades" de Passos

30 ago, 2015 • Eunice Lourenço

A coligação não resiste a usar Sócrates na campanha e deixou isso claro na Universidade de Verão. Resta saber se António Costa vai romper de vez com o passado.

O discurso de Pedro Passos Coelho no encerramento da Universidade de Verão da JSD não pode ser desligado do que disse na véspera o eurodeputado Paulo Rangel no mesmo local. Parecem até ter sido coordenados.

No sábado, Rangel referiu-se em concreto aos processos de José Sócrates e de Ricardo Salgado, questionando se teriam sido investigados e detidos se o PS estivesse no Governo. Domingo, o líder do PSD optou por não referir nomes, mas é claro que, quando falou de empresas favorecidas por serem geridas por amigos ou colegas de liceu, de bancos que dão crédito aos amigos e de bancos que não podem servir para pôr os amigos, que Pedro Passos Coelho queria que os eleitores se lembrassem de José Sócrates, Ricardo Salgado e Armando Vara.

A coligação de governo percebeu que, ao contrário do que parecia há uns meses, tem uma nesga de hipótese de não perder as eleições de 4 de Outubro. Sabe que, para isso, tem de conquistar eleitorado do centro, gente que sofreu nestes quatro anos com desemprego, cortes salariais e um enorme aumento de impostos, eleitores que tanto votam PS como PSD.

Foi para esses que Passos falou em Castelo de Vide, é para esses que a coligação vira as esperanças, com um discurso de apoio social, combate à pobreza e de novas oportunidades para quem já perdeu o comboio do emprego. Mas PSD e CDS sabem que esse discurso não chega para levar muitos dos seus próprios eleitores a sair de casa no dia 4 de Outubro. Há muita gente que ainda não confia neste PS, mas não é capaz de votar mais à esquerda, e que, outro lado, está tão zangada com o actual governo que prefere não votar.

O caminho para os levar ao voto é o medo, o medo de voltar ao passado recente. E esse passado recente tem um nome e um número: José Sócrates, o preso 44 do Estabelecimento Prisional de Évora.
Não havia dúvidas que o ex-primeiro-ministro iria estar presente nesta campanha, mas o PSD deixou isso bem claro neste fim-de-semana.

A questão, agora, é saber como António Costa vai lidar com este assunto nos próximos tempos: se vai ignorar, como fez no sábado no Yes Summer Camp, na Praia de Santa Cruz, ou se vai responder frontalmente.

O secretário-geral socialista tem optado por tentar separar a justiça da política, reduzindo o caso Sócrates a um processo judicial que tem de serguir o seu curso. Mas as intervenções do PSD e, sobretudo, as cartas enviadas da prisão por José Sócrates, a clamar que é um preso político e que o seu processo pretende prejudicar o PS, obrigam Costa a, mais cedo ou mais tarde, fazer um corte e romper de vez com o ex-líder do PS, dizendo claramente que a investigação a José Sócrates é um processo judicial que só a ele diz respeito.