Tempo
|

Eunice Lourenço

Um resultado extraordinário

30 mar, 2015 • Eunice Lourenço

Se o líder do PS não souber ler e assumir os resultados da Madeira, ainda se arrisca a ser vitima daquele que foi o verdadeiro castigo dado pelos eleitores nas regionais: a abstenção.

O PSD voltou a ganhar eleições legislativas da Madeira. Com novo líder – Miguel Albuquerque -, pela primeira vez sem Alberto João Jardim. Teve o pior resultado de sempre e garantiu a maioria absoluta apenas por um deputado. É um resultado excelente. Extraordinário mesmo! Sobretudo visto do Continente.

Claro que a Madeira tem as suas especificidades e que as eleições regionais não são comparáveis a eleições nacionais. Mas as condições para que estas eleições corressem mal ao PSD eram duplas: o que seria expectável depois de décadas de domínio jardinista e depois dos últimos anos de austeridade era que o partido que está no governo do país e no governo da região fosse penalizado e que os madeirenses optassem, finalmente, por uma alternativa. Mas a alternativa que escolheram foi uma alternativa dentro do mesmo partido. E a outra alternativa, a escolha que fizeram para segundo lugar é o partido que também está no Governo da República.

O partido mais castigado acabou por ser o PS que, não só não consegue mais uma vez apresentar-se como alternativa naquela região autónoma, como ainda consegue ter um resultado pior em coligação do que alcançou sozinho, em 2011, contra Jardim. Victor Freitas – embalado pelos bons resultados nas autárquicas e nas europeias – apostou numa coligação em que pretendia juntar todos, uma espécie de frente anti-PSD. Mas não conseguiu. Primeiro, não conseguiu juntá-los, depois não conseguiu nem evitar a maioria absoluta do PSD, nem voltar a ser o segundo partido da região.

Claro que coligar-se com o José Manuel Coelho não é o melhor cartão de visita para um partido que se quer sério. E, pelos vistos, a coligação que ganhou a Câmara do Funchal não está a dar provas de funcionar; o resultado de Miguel Albuquerque na capital mostra que os funchalenses preferem de longe o seu antigo autarca. A tudo sito, junte-se um partido nacional que queria passar o mais despercebido possível nestas eleições.

António Costa, o líder socialista, foi vagamente à Madeira no início da campanha. E, confirmada a derrota na noite eleitoral, escolheu o mais desconhecido dos membros da sua direcção para comentar os resultados: Porfírio Silva disse e repetiu que não há qualquer relação entre eleições regionais e nacionais.  E se fosse uma vitória, também não haveria? E se fosse António José Seguro que ainda estivesse a liderar o PS, que diriam os que sonhavam com a liderança de Costa?

Esta foi uma grande derrota do PS regional, mas foi também a primeira eleição da liderança de António Costa e, como tal, foi a sua primeira derrota. Se o líder do PS não souber ler e assumir isso, ainda chega a Setembro ou Outubro sem saber bem o que lhe aconteceu. E arrisca-se a ser vitima daquele que foi o verdadeiro castigo dado a todos pelos eleitores nas regionais da Madeira: a abstenção.