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Eunice Lourenço

A quem serve o Bloco Central?

28 fev, 2015

A hipótese de Bloco Central serve ao primeiro-ministro e prejudica o PS, mas Passos não pode dar demasiado nas vistas que quer casar com o parceiro de coligação e anda a piscar o olho ao partido do lado esquerdo.  

A hipótese de um novo governo do Bloco Central (PSD-PS) é um dos assuntos que vai inevitavelmente marcar a campanha eleitoral para as eleições legislativas, que já começou e a entrevista do primeiro-ministro ao semanário “Expresso” é bem prova disso.

Passos Coelho não pode recusar a hipótese de um governo de coligação com o PS, até porque as sondagens apontam para a incapacidade de qualquer partido ter maioria absoluta, e admitir um Bloco Central é um discurso que serve os interesses do primeiro-ministro e prejudica o PS.

António Costa, para potenciar o voto de protesto contra o actual governo, tem de marcar bem a diferença para com esta maioria, enquanto que Passos Coelho pode admitir uma aproximação ao PS para dar uma imagem de moderação e de estar disposto a fazer tudo para garantir a estabilidade. E, nesta semana marcada pela publicitação das declarações de António Costa a dizer que o país está “muito diferente” do que estava em 2011, tanto a reacção inteligente de Passos Coelho a essas afirmações como este discurso de abertura ao Bloco Central obrigam o líder do PS a dizer mais uma vez que não quer nada com os actuais governantes.

Mas Passos Coelho, que mostra nesta entrevista uma firme vontade de continuar a governar e não quer deixar dúvidas sobre isso, também tem de ter cuidado com o discurso do Bloco Central porque tem um parceiro de coligação que receia ser traído. O primeiro-ministro toma praticamente como certa a coligação pré-eleitoral com o CDS – que, aliás, como mostra a sondagem publicada pelo “Expresso”, lhe permitirá disputar uma vitória eleitoral ao PS – e não pode dar demasiado nas vistas que quer casar com o parceiro de coligação, mas anda a piscar o olho ao partido do lado esquerdo. E três num casamento, como se sabe, é uma multidão.