27 fev, 2015
O presidente do Centro Nacional de Cultura, Guilherme d`Oliveira Martins, defende a canalização de impostos para a recuperação do património.
Guilherme d`Oliveira Martins defende um maior uso dos recursos públicos ao serviço do que também é público, como o património cultural.
"Precisamos, além do mais, de afectar obrigatoriamente uma parte dos nossos impostos à defesa do património cultural em articulação com a educação, a ciência e a cultura de modo responsável, rigoroso, com sobriedade, avaliação e prestação de contas", disse durante a conferência de abertura do 16º Correntes d`Escritas, no Cineteatro Garrett, na Póvoa de Varzim.
O antigo ministro da Educação, num discurso intitulado "Quem tem medo da Cultura?", sublinhou a importância de "tornar o mecenato cultural mais atractivo e aliciante em nome de um maior compromisso social de todos com a noção de serviço público".
"Tem de haver audácia para garantir que cuidemos da memória protegendo-a, valorizando-a. Protegendo-a sim da especulação, da corrupção e do novo-riquismo. Para responder à crise precisamos de um destino marcado pela qualidade, pela exigência, pela determinação e pela escolha das prioridades partilhadas e justas", referiu Oliveira Martins perante uma sala cheia.
Durante a sua intervenção em que realçou várias vezes o valor da língua portuguesa, o presidente do Tribunal de Contas alertou que "a ameaça à cultura vem da facilidade, do autocomprazimento e da mediocridade".
Ou seja, "a pobreza vocabular, a confusão nos argumentos, a desordem na exposição, a indigência das ideias, tudo isso tem a ver com desatenção e indiferença que atingem as humanidades e a literatura".
"Quem tem medo da cultura é quem baixa os braços perante a força avassaladora do imediato, da simplificação ou da indiferença", frisou Oliveira Martins, antes de concluir com uma resposta "provisória, frágil": "medo da cultura é afinal é ter medo da liberdade e da democracia".
Até sábado a literatura estará em debate no festival “Correntes d’Escritas”, na Póvoa de Varzim.