Emissão Renascença | Ouvir Online

Raquel Abecasis

Tarde piaste

19 fev, 2015

Os pecados de Juncker podem ter empurrado a Europa para um beco sem saída, já para não falar na desgraça que trouxeram à vida de tantos cidadãos.   

Jean-Claude Juncker acordou agora para a realidade e declarou: “Pecámos contra a dignidade dos povos sobretudo na Grécia e em Portugal e algumas vezes na Irlanda. Eu era Presidente do Eurogrupo, parece estupido dizer isto, mas temos de tirar lições da história.”

Eu não diria melhor, parece mesmo muito estúpido ouvir Juncker a dizer isto, ele que foi um homem do sistema ao longo destes anos, mas depois ouvimos um pouco mais e começamos a perceber: Afinal... a culpa foi de Durão Barroso, o seu antecessor que nunca falou do tema na Comissão, ao contrário do novo presidente da Comissão, o próprio Juncker, que não tem feito outra coisa nos últimos tempos.

Pudera, a Grécia está a ameaçar implodir o euro e consequentemente a Europa. Se nem agora o presidente da Comissão Europeia acordasse para a realidade, era porque não tinha amor ao seu lugar, coisa que todos sabemos que tem.

Aqui chegados, é bom ter noção que Juncker faz estas declarações na véspera de uma reunião extraordinária do Eurogrupo para avaliar a mais recente proposta grega para chegar a um entendimento com os parceiros europeus.

A política é mesmo assim – é jogar com a arte do possível –, mas, ao bater no peito, é bom que o senhor Jean-Claude Juncker tenha noção de que os seus pecados podem ter empurrado a Europa para um beco sem saída, já para não falar na desgraça que trouxeram à vida de tantos cidadãos europeus que, ao longo destes anos, bem se tentaram fazer ouvir junto de políticos como Juncker.

Como não conseguiram, desesperaram destes políticos e viraram-se para os extremos. O Syriza na Grécia, o Podemos em Espanha ou a Frente Nacional de Marine Le Pen são só um começo de conversa numa Europa que pode acabar muito mal, graças aos pecados de Juncker e seus companheiros.