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Graça Franco

Depois dos testes de stress estamos na hora de stressar?

27 out, 2014

Em Portugal também se registaram algumas boas notícias. Mesmo na Europa o cenário também podia ser pior. Dos 150 só 25 apresentam algum chumbo e destes só 13 terão ainda de fazer alguma coisa.

Podia ser pior. Não sei se a consolação será suficiente para acalmar os mercados (que hoje já acordaram nervosos). Por isso é cedo para afirmar, sem dúvidas, que podemos parar de stressar.

A queda das cotações, esta manhã, aconselha prudência mas boa parte do resultado já estará incorporado pelos agentes para os quais, pouco ou nada, da informação agora fornecida pelas autoridades de supervisão, será novidade.

Claro que depois do caso BES tudo o que Portugal não precisa é de mais más notícias. Nesta linha, um chumbo, mesmo só no cenário mais adverso, nos testes de resistência da banca a uma nova crise, também se dispensava. Mesmo assim os danos colaterais da reprovação parecem estar controlados. Primeiro os resultados referem-se a 31 de Dezembro e depois disso o banco reforçou capital e apresentou um plano de reestruturação. Segundo, se tudo corresse tão mal como no cenário projectado, a questão que se coloca não é tanto como resistira o BCP mas o que ainda ficaria de pé?

De facto o chumbo, embora estridente (rácio de apenas três face aos 5,5 obrigatórios), ficou-se pelo cenário mais adverso (PIB em queda a começar já este ano, desemprego a disparar para 18% no próximo, queda acumulada do imobiliário de 20% até 2016 e juros a subir dois pontos já na actualidade).

Ou seja, sem esta confluência de desgraças o BCP passa. Mesmo aí a falha de capital embora muito grande (mais de mil milhões quando o BCP acabou de reforçar capital em mais de dois mil milhões) já está integralmente colmatada através de uma série de medidas contempladas no pacote da reestruturação em curso.

O último passo para conseguir o montante necessário terá sido conseguido já em Outubro com a adesão formal ao programa de recuperação de créditos fiscais, na sequência do debate sobre o tratamento a conceder aos “impostos diferidos”.

Resumindo: não falta fazer mais nada. Nem sequer será preciso vender mais activos (como o banco na Polónia). Menos mal.

Além disso para Portugal também se registaram algumas boas notícias: o BPI, entre as quase duas dezenas de bancos analisados na Península Ibérica, apresenta-se como o segundo mais sólido. E a Caixa Geral de Depósitos passou nos dois critérios, embora com uma pequeníssima margem no cenário mais negativo. Até há pouco muitos apostavam no chumbo em caso de crise profunda.

Mesmo na Europa o cenário também podia ser pior. Dos 150 só 25 apresentam algum chumbo e destes só 13 terão ainda de fazer alguma coisa, porque os restantes, desde final do ano passado até hoje, já resolveram a questão.

Tudo somado só faltarão 25 mil milhões de capitais nesta amostra analisada do sector (cerca do dobro do disponibilizado no programa da Troika apenas para Portugal) e mesmo em conjunto com todas as outras medidas aconselhadas com reforço de provisões etc…, as necessidades de reforço totais ficam-se abaixo dos 70 mil milhões (menos do que o montante envolvido no nosso programa de resgate).

Claro que falta saber o impacto do problema italiano. Aqui entre 15 bancos analisados 9 chumbaram. Mas, convém não nos deprimirmos por antecipação. Também aqui a notícia era esperada tal como a constatação de que mesmo nos países resgatados onde se lançaram muitas dezenas de milhares de milhões sobre o sector nem tudo está resolvido. Chumbam dois gregos, um português, um irlandês e um cipriota.

A tempestade continua a passar por aqui, apesar do vento ter abrandado. Os ventos fortes fazem mesmo abanar o sector um pouco por todo o lado. Nem a Alemanha consegue escapar com um dos seus bancos “chumbado” espalhando-se o risco de problemas num cenário adverso um pouco por toda a zona. O Banco Central levantou o aviso laranja mas ainda estamos em aviso amarelo.

O foco está agora colocado no BCE, tal como nos institutos de meteorologia. É bom que para começo de conversa dos seus novos poderes de supervisão não falhe as respectivas previsões.