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Graça Franco

Gestão desastrada

15 set, 2014 • Graça Franco

Pena a nova equipa não ter sido a inicial. Stock da Cunha, numa entrevista antiga, disse seguir uma máxima comum à gente da banca: “Esperar o melhor e preparar-se para o pior”. Já nos sossega. Vítor Bento limitou-se a “esperar o melhor...” e, com isso, mostrou-se, infelizmente, muito mais político do que banqueiro.

Desastrada. É o mínimo que se pode chamar à gestão conjunta do Governo e do Banco de Portugal ao longo das últimas semanas do chamado “caso BES “e que culminou com a saída de Vítor Bento anunciada em manchete pelo Expresso.

Se dúvidas houvesse sobre o significado do silêncio ensurdecedor que rodeou este caso, basta recordar que coube à DECO a tarefa de vir tranquilizar os depositantes. Sintomático.

A saída de Vítor Bento compreende-se como resultado do erro de "casting" inicial, mas não deixa de acarretar uma enorme desilusão e constituir um golpe que pode ser fatal na confiança já tão debilitada no novo banco.

Convidado ainda por Ricardo Salgado, (embora com o aval do BdP) e apresentado ao país como homem providencial, Vítor Bento “não tinha nada a ganhar com esta aventura”, como ele próprio fez questão de recordar em entrevista à SIC. Confirma-se. Mas, se como afirmou também, na altura, o que o movia era apenas o patriótico interesse de ajudar a salvar a banca do risco de colapso, não se entende como desertou agora, quando esse mesmo risco com a sua própria saída podia até ser potenciado.

Mas mesmo que a decisão seja incompreensível, é prudente não o julgar. Bento cumpriu a promessa inicial, mesmo sem ver nenhum dos pressupostos do desafio que lhe fora feito cumpridos. O seu mandato reduzia-se agora a vender “quanto antes” um Banco Novo para o qual fora empurrado, numa estratégia que não tinha o seu acordo e contava com a sua aparente oposição. Pedir-lhe que continuasse mesmo assim era, provavelmente, demais. Não vale a pena pensar que possa ter tido motivos mais graves porque esses só nos podem preocupar.

Os contribuintes têm o direito a saber, quanto antes, da boca do Governo, o que pretende fazer para preservar o seu dinheiro. A estratégia de sacudir a água do capote para o supervisor não colhe. Não é verdade que o Governo não tenha nada a ver com o que se passa (a começar no representante das Finanças no Fundo de Resolução) a continuar na nomeação dos novos administradores para o Banco de Portugal. No caso de Hélder Rosalino nem o “período de nojo” foi acautelado. É verdade que os nomeados ganham depois, no próprio banco, vida nova e se tornam por cinco anos praticamente inamovíveis, mas fingir que a supervisão é uma entidade abstracta e/ou um corpo estranho não colhe. Aliás Maria Luís Albuquerque nem disfarçou quando, na posse dos novos administradores, reclamou mudanças na supervisão. Em que ficamos?

A nomeação de uma nova gestão com mandato bem definido é a boa notícia. Dela espera-se que além de vender com sucesso o faça de forma tão transparente que não deixe lugar para dúvidas. Seja o BPI, o Santander ou outro qualquer comprador não pode pairar a menor suspeição sobre a justeza do preço.

Pena a nova equipa não ter sido a inicial. Poupavam-se dois meses. Pena não ter chegado pelo menos há quinze dias. Rezemos para que tenha sucesso. Porque o sucesso profissional de Eduardo Stock da Cunha (ex-jornalista desta casa, ainda nos tempos de estudante, e com um passado de sucesso internacional na gestão bancária), José João Guilherme (que conheço bem dos bancos da Católica e cujo perfil de homem seríssimo é, em si mesmo, uma salvaguarda), Vitor Fernandes e Jorge Cardoso será uma boa notícia para todos os contribuintes.

Para já, começa bem. Stock da Cunha, numa entrevista antiga ao blogue de Anabela Mota Ribeiro, disse seguir uma máxima comum à gente da banca: “Esperar o melhor e preparar-se para o pior”. Já nos sossega. Vítor Bento limitou-se a “esperar o melhor...” e, com isso, mostrou-se, infelizmente ,muito mais político do que banqueiro.