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Eunice Lourenço

Não aprendemos nada?

11 ago, 2014 • Eunice Lourenço

Iraque, Gaza, Ucrânia. O mundo parece viver uma situação muito parecida com a do BES: para resolver buracos foram-se criando novos buracos.

Os relatos que chegam são assustadores: cristãos obrigados a converter-se ao Islão ou a fugir, yazidis (uma minoria religiosa anterior ao cristianismo) mortos ou enterrados vivos, centenas de milhares de homens, mulheres e crianças em fuga. Crianças decapitadas, homens crucificados, mulheres escravizadas, casas invadidas, igrejas destruídas…

O que se está a passar no Iraque pode parecer demasiado longe – geograficamente longe, culturalmente longe – mas não é e não podemos ignorar.

O chamado mundo ocidental começa, por força da oração, da pressão ou dos interesses próprios, a movimentar-se. Os Estados Unidos lançaram ataques aéreos contra posições do autodenominado Estado Islâmico, os radicais muçulmanos que têm tomado posições no norte do Iraque e que querem formar um califado em território iraquiano e sírio.

Obama, no entanto, só ordenou os bombardeamentos quando os extremistas estavam à beira de tomar Erbil, a capital do Curdistão iraquiano. Uma cidade onde estão cerca de 40 conselheiros militares e diplomáticos norte-americanos e que, nos últimos anos, tornou-se num centro de negócios do petróleo curdo.

O Presidente americano já disse que os ataques vão continuar, mas que os Estados Unidos não vão pôr “boots on the ground”. Preferem colocar mais armas nas mãos dos curdos. E é isso que também se preparará para fazer a União Europeia. Itália e França já o assumiram: querem armar os curdos para combater os extremistas.

Entretanto, em Bagdad, vive-se uma luta pelo poder: foi nomeado um novo primeiro-ministro, xiita; mas o actual, sunita, não quer deixar de ser e já avisou que não aceita o que considera ser uma nomeação inconstitucional. Os Estados Unidos e a ONU já se congratularam com a escolha do novo primeiro-ministro e esperam que consiga formar um governo que inclua as várias facções iraquianas.

Em Gaza vai-se vivendo e morrendo entre várias declarações de cessar-fogo. Na Ucrânia, há uma guerra não oficialmente declarada, um conflito entre a guerra civil e a guerra pela independência. E entre a Rússia, Estados Unidos e União Europeia vão-se cruzando telefonemas e sanções sempre em crescendo.
 
O mundo parece viver uma situação muito parecida com a do BES, em que, para resolver buracos, se foram criando novos buracos. 

Alguém se lembrará que o Iraque é uma das criações de 1919? Que resultou da I Grande Guerra, que fez cair impérios e redesenhou mapas a regra e esquadro em África e no Médio Oriente? Alguém se lembra do conceito de “paz armada”, que aprendemos algures na escola? Lembram-se do fim da Jugoslávia? Da guerra na Bósnia? Do massacre de Sbrenica?

Muito do que vivemos hoje tem raízes na I Guerra e no seu armistício. Os líderes mundiais deveriam ver os muitos documentários feitos a propósito dos 100 anos do início do primeiro conflito com escala mundial. Pode não ajudar a encontrar soluções, mas certamente ajudaria a evitar muitos erros.