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Ribeiro Cristóvão

Antecipar cenários

25 jun, 2014 • Ribeiro Cristóvão

Os portugueses preferem antecipar cenários e, perante um previsível desfecho negativo da participação no Mundial, a saída de Paulo Bento do comando da selecção parece razoável. O seleccionador prefere empunhar a espada a encostar-se à parede para se deixar trespassar.

Quando estamos a um dia do jogo decisivo que vai determinar se a selecção portuguesa prossegue no Campeonato do Mundo de Futebol ou regressa mais cedo a casa, parece ter começado já retirada pela porta das traseiras.

Pelo menos é o que se pode depreender das posições públicas assumidas, em simultâneo, por um dirigente da Federação e o mais destacado responsável pelo seu Departamento Médico.

De tudo quanto ao longo de quase uma hora foi dito, tornou-se fácil extrair esta conclusão: cabe ao seleccionador assumir o maior quinhão de responsabilidades por tudo quanto de menos bom tem acontecido nesta presença no mundial brasileiro, uma vez que lhe foram dadas todas as condições e feitas todas as chamadas de atenção para aquilo que poderia vir a correr mal, como de resto tem vindo a acontecer.

Daí que, perante um previsível desfecho negativo da participação portuguesa nesta reunião internacional do futebol ao mais alto nível, só parece poder entender-se como razoável a saída de Paulo Bento do comando da selecção nacional.

Por razões talvez de menor envergadura, Cesare Prandelli anunciava de imediato, após a derrota com o Uruguai, o abandono de cargo idêntico na federação italiana, o mesmo tendo feito Sabri Lamouchi, que se despediu da Costa do Marfim depois de a Grécia lhe ter roubado a possibilidade de chegar aos oitavos de final.

A única e substantiva diferença em tudo isto é a novidade portuguesa de pretender antecipar cenários, quando há ainda um jogo para disputar e no qual poderá vir a acontecer, como tantas vezes no futebol, uma reviravolta sensacional que obrigue a meter a viola no saco.

Paulo Bento continua a preferir empunhar a espada a encostar-se à parede para se deixar voluntariamente trespassar.

Veremos amanhã como vai terminar este “duelo” imprevisto, que começou muito antes do tempo, e se deveria ter mantido apenas na fase de aquecimento.