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Francisco Sarsfield Cabral

O deserto da política

09 jun, 2014

Se os partidos são apenas máquinas de alcançar e manter o poder, não se percebe o espanto com o alheamento dos portugueses.

Os portugueses afastam-se cada vez mais da política. Um dos motivos é o nível deprimente do debate partidário no Parlamento. Frequentemente quase não passa de uma troca de acusações e de insultos.

Boa parte da comunicação social, sobretudo a televisiva, estimula esse tipo de discussão boçal, pois privilegia os ditos mais chocantes e os embates mais violentos, ainda que sem conteúdo relevante.

Pelos vistos, o mesmo vício atinge as discussões dentro dos partidos. Quais são as diferenças de orientação política entre A. J. Seguro e A. Costa? Ambos são contra a austeridade, o “neo-liberalismo” e a chanceler Merkel; ambos querem o Estado social, evitando revelar como o financiariam.

A diferença entre Seguro e Costa que verdadeiramente interessa aos socialistas é uma só: Costa aparenta ter maior capacidade de levar ao PS à vitória nas próximas eleições. Ganhar o poder significa empregos para as clientelas partidárias.

É o deserto da política. Se os partidos são apenas máquinas de alcançar e manter o poder, não se percebe o espanto com o alheamento dos portugueses.